Conversas do dia a dia

- Olá, amigo. Está tudo bem contigo?

- Como é que estou bem? Estou aqui sozinho, não aparece ninguém.

A rua está vazia e não me digas que se deve à pandemia, pois já antes de ela aparecer era isto que se via todos os dias.

- Pois, deves compreender que as pessoas têm os seus afazeres.

- Não é bem assim. A vida está mesmo ruim. As pessoas tornaram-se mais individualistas, menos comunicativas.

Não se vê ninguém no quintal, nem à janela, nem numa varanda. Juro que pagava para ver esta gente onde é que anda.

- Meu amigo, se continuas com esse pensamento, ainda morres precocemente.

Vais sofrer muito se não te adaptares aos novos tempos.

- És capaz de ter razão, mas está a ser difícil a minha adaptação. E não é só na solidão.

- O mundo não vai mudar, de modo que, isto está assim e assim irá continuar.

Mas, sinceramente, o que é que te incomoda concretamente?

- A vida, no seu todo. Sempre pensei um dia viver num “mundo novo”.

Cheguei a ter essa esperança, (no fundo, uma ilusão) quando se deu a nossa Revolução.

Só que, poucos anos volvidos, já estava mais do que convencido que esse meu querer o melhor seria esquecer.

- Bom, não foi bem assim. Muita coisa acabou que era ruim.

- Podia e devia ter acabado muito mais e cada dia que passa damos um passo atrás.

O fim da P.I.D.E e a chegada da Liberdade – agora sem controlo, pecando por excessiva e abusiva – são o que restam, meu amigo, do que nos foi prometido.

- Analisando bem, realmente, tudo o que não prestava antigamente temos no presente.

- E pior ainda. Muitas coisas más, mas que só às escondidas se faziam, hoje fazem-se às claras e, quase diria, foram” legalizadas” pela democracia.

- Eu penso e não sei se é de bom senso, mas para termos um regime político que nos contenta só se mandarmos fazer por encomenda.

- Ah, sim, tem de ser uma coisa de raiz, os que existem neste mundo não se adaptam ao nosso país!

- Mesmo que digam que vivemos num regime livre, aparecem sempre laivos da ditadura, pois o diabo, ao longo do tempo, encarregou-se de fazer a mistura.

- A gente vai morrer, morrem de velhos os que ainda vão nascer e Portugal vai ser sempre aquilo que se viu e estamos a ver.

Um País de POBREZA, uma parte à vista, outra escondida, a par de RIQUEZAS, algumas porventura legítimas, outras assentes em malabarismos e dívidas.

- Pois. E mais uma JUSTIÇA como Deus bem sabe e uma SAUDE em completa debilidade.

Uma EDUCAÇÃO em permanente ebulição, o EMPREGO e (quase) tudo o mais a fazer que com que supliquemos a DEUS que nos deite a mão.

- Quanto à política, é a DIREITA a dizer mal da ESQUERDA, a ESQUERDA a dizer mal da DIREITA, o CENTRO a dizer mal das duas e a “bagunçada” está feita.

- E o Zé-povinho, coitadito, com os seus votos vai alimentando estes falsos mas convenientes conflitos.

Juvenal Pereira

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