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“Complicómetro …”

É possível que já tenha proferido, ouvido ou simplesmente pensado que uma pessoa, em determinado contexto, “caso não prejudique, já ajuda”.

Para além do caráter discriminatório que tal pode significar, na maioria das vezes é apenas um sentimento genuíno em relação à forma de agir de determinadas pessoas que, em vez de contribuírem para a resolução dos problemas, acabam por prejudicar os processos e dificultar que se encontrem e implementem as melhores soluções.

Contudo, nem todos aqueles que ligam o “complicómetro” o fazem pelos mesmos motivos e da mesma forma.

A título de exemplo, por um lado, há aqueles que até querem ajudar, mas são “picuinhas” e levam ao extremo o “esmiuçar” de cada assunto. E então, aquilo que até pode ser uma mais-valia em algumas circunstâncias, pois obriga, por exemplo, a uma análise mais aprofundada das alternativas e das suas implicações, noutras alturas pode atrasar e dificultar a tomada de decisão.

Por outro lado, temos aqueles que, ao serviço de uma agenda pessoal, interesses corporativos, … apenas querem lançar a confusão, atrasar os processos e impedir que os problemas se resolvam de forma adequada. Normalmente, são aqueles que reconhecidamente são “baldas”, adeptos do deixa andar, que ligam o “complicómetro” para camuflar a sua incompetência, falta de profissionalismo e compromisso para com as organizações e para com aqueles com quem trabalham, ou então até são indivíduos com algum crédito mas que, por ressabiamento ou ambição pessoal, querem complicar a vida a quem, no momento, tem a responsabilidade de liderar e implementar os processos…

Obviamente, que quando nos estamos a referir a quem liga o “complicómetro” para infernizar a vida pessoal ou profissional de terceiros, não nos referimos a todos aqueles que, de uma forma intelectualmente honesta, sem demagogias e populismos, criticam, expõem disfuncionalidades, apresentam alternativas viáveis … para ajudar a dar uma resposta mais adequada aos problemas que se colocam. Não nos devemos esquecer que o contraditório é fundamental para combater as unanimidades acéfalas e subservientes que proliferam por ambição desmedida, medo de represálias e falta de “coluna vertebral” …

Numa altura em que vivemos uma situação excecional e são necessárias medidas excecionais, apesar de não valer tudo, pois há valores e princípios que não devem nem podem ser violados, não podemos ligar o “complicómetro” por tudo e por nada.

Não podemos, por um lado, exigir autonomia e, por outro, querer que seja minuciosamente discriminado tudo aquilo que se pode ou não fazer em contexto de pandemia. Mais a mais, quando o conhecimento ainda é relativamente escasso e por isso mesmo sujeito a alterações significativas.

Contudo, havendo evidências científicas que permitem perceber que o distanciamento social, o uso de máscara e a higienização das mãos assumem uma importância muito relevante no controlo do contágio, seria de esperar que imperasse a racionalidade e isso fosse interiorizado e aplicado “religiosamente” por cada um de nós. Mas não! Parece que é preciso obrigar, limitar, ameaçar e punir para que se cumpram recomendações tão simples.

Paradoxalmente, muitos daqueles que, na sua vida pessoal e social, infringem de forma irracional os mais elementares comportamentos de segurança, depois são muito reivindicativos e exigem medidas específicas de controlo da pandemia. Parece que não percebem ou não querem perceber que de pouco serve ter comportamentos imaculados nuns contextos e noutros existir uma espécie de “regabofe social”.

Infelizmente, as consequências da pandemia ainda agora começaram e irão muito para além das que se relacionam diretamente com a saúde. Do ponto de vista económico-social, por exemplo, embora já existam situações muito graves o pior ainda parece estar para vir.

Não podemos ter uma espécie de “polícia de costumes”, mas o condicionamento social pode começar por coisas tão simples, como recusarem-se a falar com quem não use máscara, mesmo ao ar livre… A liberdade de cada um não pode colocar em risco a segurança de todos. Porém, neste tipo de circunstâncias, a linha entre o bom senso e o autoritarismo é muito ténue…

Cada um de nós tem de decidir se quer fazer parte do problema ou parte da solução.

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