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O ano em que o mundo parou

Ao contrário da guerra, onde a generalidade dos ricos podem comprar a sua sobrevivência, este vírus é democrático, não olha à raça, religião, cor, idade ou posição social

O mundo ocidental sempre receou uma 3ª guerra mundial que poderia extinguir uma parte considerável da raça humana.

Sempre olhámos com horror como a guerra devasta rapidamente um país e famílias como as nossas, do dia para a noite.

De repente, perdemos a segurança que pensávamos ter como um direito adquirido e o nosso mundo parou. A grande diferença, e por isso é leviana a comparação com uma guerra, é que o principal lamento é o de viver numa suposta “prisão”, para a maior parte, junto dos que mais amam e no conforto do lar, e que a sobrevivência depende em grande parte do comportamento de cada um.

Ao contrário da guerra, onde a generalidade dos ricos podem comprar a sua sobrevivência, este vírus é democrático, não olha à raça, religião, cor, idade ou posição social. Ataca todos sem tréguas, com a morte bem presente.

Os únicos. que terão por ventura um cenário similar ao de Guerra, são os profissionais que estão na linha da frente e que, literalmente, arriscam a sua vida todos os dias, para salvarem outras, sem o conforto da sua família ou nas condições ideais.

Aqui na Madeira, o “cantinho do céu” não foi imune. Embora com uma hesitação inicial, fruto do desconhecimento de uma realidade nunca antes vivida, o Governo Regional percebeu o que aí vinha e agiu rapidamente.

Senti pela primeira vez, devo confessar, um verdadeiro orgulho dos nossos governantes, pela coragem que tiveram e as medidas que tomaram. Acredito que não tenha sido fácil, mas a VIDA impunha medidas drásticas como as implementadas.

Depois de um choque inicial, já percebemos que iremos mudar para o resto das nossas vidas e que nada será como dantes. Toda a dinâmica social irá mudar.

Muito haverá por dizer sobre os apoios necessários às famílias e empresas, nestes tempos difíceis que se adivinha que perdurarão por mais uns meses, mas neste momento a minha mensagem vai no sentido de que as pessoas percebam a grande responsabilidade que cada um tem individualmente. Responsabilidade na sobrevivência, na vida e na morte, dos que nos são próximos e de toda a comunidade. lembrando que todos os que, de forma negligente, furam as quarentenas poderão ser responsáveis pela morte de alguém. Isto até pode parecer ficção, mas não é. Isto é real. Olhem para Espanha e Itália, EUA..., POR DIA estão a morrer centenas e centenas de pessoas.

E não acreditem quando vos dizem que só morrem os mais velhos. É mentira... morrem pessoas de todas as idades, menos é verdade, mas morrem. E se aquela criança ou jovem, que fura a excepção de que “só os velhos morrem” for o seu filho, a sua mulher, o seu irmão....?? Pense nisso e verá que vale a pena todos os sacrifícios. FIQUE EM CASA!

P.S. - O Renato é um camionista que percorre as estradas europeias e que ajuda a abastecer este e outros países. O Juan trabalha diariamente num supermercado para que nada nos falte. A Sónia acorda todos os dias, às 5 da manhã, deixando os seus 3 filhos menores, para trabalhar na padaria que fornece o pão na nossa zona... o Manuel recolhe o lixo, lidando directamente com esse potencial foco de contaminação, para que as ruas se mantenham limpas e livres de pragas, ainda que vazias. Estes são 4 exemplos, entre milhares e milhares de tantas profissões, que continuam no meio desta pandemia a trabalhar para que nada nos falte. A eles... palmas e obrigado!

As forças de segurança, proteção civil, profissionais de saúde, cuidadores dos lares e instituições de acolhimento, bombeiros ... são os que estão na linha da frente deste combate. Diariamente expostos ao perigo, longe do aconchego das suas famílias, numa solidão emocional inimaginável, merecem não só o nosso respeito como a nossa colaboração. Colaboramos adoptando os comportamentos adequados.

Aos membros do Governo Regional que todos os dias têm de tomar decisões difíceis, que não percam a coragem. Lembrem-se que serão lembrados por tudo terem feito para salvar vidas. É desses que reza a história.

Um registo especial também para a Secretaria de Educação e a todos os agentes da Educação, que rapidamente estão a criar condições para que os nossos filhos continuem apoiados no seu percurso académico.

Todas estas pessoas são os heróis dos nossos tempos. Lembrem-se dos seus sacrifícios quando, por causa de um café na esplanada ou de uma outra coisa fútil, colocarem as suas vidas e as de todos em perigo. Sejam os ajudantes dos heróis.

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