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As amândoas, meu amor!

Já dizia a minha avó:- O MAL NUNCA VEM SÓ!

Esse vírus repelente que anda por aí a fazer mortos e doentes, não para de prejudicar a gente.

Não bastava ficarmos em casa quietinhos, longe das nossas famílias, amigas e amiguinhos, para agora não podermos sair do Concelho da nossa residência, mesmo se formos sozinhos.

Há gente velha que não se lembra disto, não sei que mal fizemos a Deus para recebermos semelhante castigo.

- Oh, meu amigo, este mundo anda perdido. E como o homem não é capaz de o endireitar, vêm estas pragas que põem a gente no seu lugar.

- Mas é demais. E, depois, o que é mais comovente, pagam culpados e inocentes.

- É verdade. Mas, afinal, meu amigo, o que se passou, concretamente, contigo?

- Como sabes, com estes noticiários a falar do vírus de hora a hora já faz com que a gente não ande a” bater bem da bola”.

- Sim, especialmente se andarmos a ver e ouvir noticiários constantemente, com aquelas análises que nem o diabo entende, mais aquelas entrevistas de doutores e cientistas, cada qual com a sua opinião, a nossa cabeça anda mais à roda do que um pião.

- Tens razão, se bem que eu para não ficar tonto, a tudo o que eles dizem dou um desconto.

- Então, meu amigo, porque estás assim tão aborrecido?

- Sabes com toda esta barafunda e baralhada esqueci-me de oferecer as amêndoas à minha namorada. Quando me passou pela minha triste cabecinha já era sexta-feira santa à noitinha.

- Bom, mas aí tinhas o sábado para comprar e entregar. E a tua namorada não ficava com mágoa porque ainda as comia antes do Domingo de Páscoa.

- Pois, foi isso que pensei e, acredita, até agradeci a Jesus, só que não me lembrei era de que eu residia no Funchal e ela no Concelho de Santa Cruz.

- E diabo que azar. Concelhos diferentes não podias entregar. Ainda assim, devias tentar.

- Tentar, tentei, mas não passei. A senhora guarda foi muito simpática e educada mas não teve compaixão nem de mim, nem da minha namorada.

- E ficaste com a Pascoa estragada?

- Por acaso não, mandei de DRONE que era a única coisa que tinha à mão.

- Ainda tinhas uma maneira, era ela ter vindo buscar à “fronteira”!

-Sim, mas foi melhor assim. A polícia não ficou a pensar mal de mim e como não vi o meu amor, também não tive a tentação de ser pecador.

Cumpri o meu dever com a minha namorada e a Semana Santa foi rigorosamente respeitada.

Juvenal Pereira

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