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Recolha de dados ajuda a combater crise na UE mas vem tarde

Foto EPA/ANTONIO BAT
Foto EPA/ANTONIO BAT

Especialistas na área digital consideraram hoje que o rastreamento de informações pessoais anónimas poderá ajudar a conter a propagação da pandemia na União Europeia (UE), mas afirmaram que a medida chega tarde, pedindo ainda proteção destes dados.

“Esta crise e as medidas de confinamento adotadas não têm precedentes. O que também é inédito é a quantidade de dados disponíveis, que podem ajudar a entender melhor a crise, a disseminação do vírus, o comportamento individual e como os Estados-membros podem responder melhor, aprimorando as medidas já implementadas”, afirma em declarações à agência Lusa Andreas Aktoudianakis, analista de política digital do grupo de reflexão European Policy Centre.

Numa altura em que a Comissão Europeia quer avançar com a monitorização de dados pessoais anónimos (obtidos por uma operadora em cada Estado-membro) para, desta forma, analisar os padrões de mobilidade, incluindo o impacto das medidas de confinamento e, portanto, os riscos de propagação da covid-19, o especialista diz à Lusa que tal medida “poderá ajudar a obter uma leitura mais clara do impacto das medidas adotadas pelos Estados-membros”.

“Isso é crucial para delinear o fornecimento de equipamentos médicos e antecipar a disseminação da covid-19 e o seu pico em cada país”, aponta Andreas Aktoudianakis.

Contudo, por só não ter sido logo adotada aquando do início do surto, esta coleta poderá “não atingir todo o seu potencial, dado ser uma medida de emergência com planeamento e aplicação reativos”, sustenta o analista.

Para Andreas Aktoudianakis poderá, ainda assim, estar em causa uma “boa notícia”, de que esta medida se traduz num “exercício muito útil que pode acelerar o diálogo e a criação das ferramentas necessárias que permitirão à UE e aos Estados-membros estarem melhor preparados para lidar com ameaças semelhantes no futuro”.

Também em declarações à Lusa, o analista Dharmendra Kanani, do grupo de reflexão Friends of Europe, vinca que “os dados são reis na luta contra a covid-19”.

“Todos beneficiam com a obtenção de dados como a taxa de infeção, a taxa de mortalidade, a taxa de recuperação, as vacinas e os seus testes, as capacidades hospitalares, os equipamentos médicos, o total de profissionais de saúde e os resultados do isolamento social ou dos bloqueios para conter a transmissão desse vírus”, precisa.

Porém, para este responsável, para haver uma “partilha desses dados em toda a UE era essencial que existisse uma abordagem europeia [à pandemia], que infelizmente está ausente”.

Para Dharmendra Kanani, “o principal dilema moral” prende-se agora com a necessidade de “proteger a privacidade e os direitos humanos enquanto se recolhem dados em bloco”.

“Será importante que a Comissão Europeia demonstre, com ações e evidências, que ambos os objetivos podem ser alcançados”, vinca o especialista.

Já no que respeita à legislação comunitária para proteção dos dados, Dharmendra Kanani assinala que esta medida “não compromete os seus princípios, desde que garanta o anonimato [das informações pessoais] e que as salvaguarde”.

“Em tempos de emergência, sabemos que certas regras e regulamentos podem ser adaptados e usados de maneira diferente”, acrescenta.

Outra preocupação manifestada por este analista prende-se com a criação de uma “mega base de dados” detida por Bruxelas.

“Para que isso seja bem-sucedido, a UE tem de criar uma campanha que permita às pessoas entender por que isto é importante e o que oferecerá em termos de benefícios potenciais à saúde e de retorno à vida normal a médio prazo”, adianta Dharmendra Kanani.

Ainda não existe data para o projeto avançar, mas Bruxelas quer que aconteça o mais rapidamente possível, sendo que isso também depende das operadoras.

Em causa está um modelo estatístico que analisará os padrões de mobilidade dos cidadãos (fazendo comparação dia e noite) e os correlacionará com a propagação do novo coronavírus.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 828 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 41 mil.

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