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Resposta à carta ‘Rua do Bom Jesus’

A Carta do Leitor publicada no passado dia 27 de fevereiro no vosso diário e assinada por Manuel Alves Teixeira, merece as seguintes considerações:

- O Recolhimento do Bom Jesus foi fundado em 1654 pelo arcediago Simão Gonçalves Cidrão, destinado ao abrigo de donzelas pobres, passando para a dependência da Confraria do Senhor Jesus da Ribeira e transformado em recolhimento a partir de 1662/1666, tendo o bispo de então, D. Gabriel de Almeida, aprovado o seu funcionamento.

Desde essa altura até à atualidade, o Recolhimento do Bom Jesus tem cumprido a sua função, adaptando-se às circunstâncias dos tempos, mas sempre com a mesma finalidade, sendo dos poucos edifícios que se mantém nas suas funções de origem (neste caso, há mais de 350 anos).

O acolhimento de pessoas necessitadas é, portanto, um desígnio de uma instituição que precede a maioria das funcionalidades da nossa cidade, incluindo lojas, centros comerciais e outras afins, todos aliás licenciados posteriormente à sua existência, merecendo a estima da população e o dever das autoridades regionais em manter tão valioso património e tão nobre missão.

As condições de pernoita dos sem-abrigo é uma realidade indigna à vista de todos, e são os comerciantes talvez os que a mais sentem diretamente, pois é às suas portas que muitos deles se acomodam para dormir e, muitas vezes fazerem as suas necessidades fisiológicas.

É difícil compreender uma atitude de revolta perante algo que nem sequer se conhece, pois o respetivo projeto ainda nem foi divulgado, e, particularmente, perante uma iniciativa de caráter humanitário que, visa dar condições dignas a seres humanos, a sua reabilitação como pessoas e, consequentemente, eliminar da cidade focos de insalubridade e conflitualidade.

O Centro de Acolhimento Noturno resulta de um protocolo estabelecido entre as IPSS, Recolhimento do Bom Jesus (RBJ) e Instituto São João de Deus (ISJD), afetando parte do prédio situado na Rua do Bom Jesus para acolhimento noturno (das 20h às 08h) de 15 (quinze) sem-abrigo. O horário de funcionamento e o número de sem-abrigo acolhidos diariamente contradiz o que o leitor Manuel Alves Teixeira aponta como grandes preocupações.

Esta atividade será orientada por uma instituição de experiência inquestionável, como é o ISJD, pelo que o Centro Noturno trabalhará em consonância com a Casa de Saúde São João de Deus, uma vez que grande parte dos sem-abrigo sofre de doença mental. Durante o seu funcionamento, estará sempre presente um enfermeiro e dois auxiliares de enfermagem.

O Centro Noturno também trabalhará no sentido da reinserção social dos sem-abrigo, envolvendo técnicos de serviço social, psicólogos, enfermeiros, psiquiatra, médico neurologista, médico de medicina interna, terapeuta ocupacional, entre outros.

Por não querermos para os outros o que não queremos para nós, é exatamente o fundamento deste projeto que o RBJ e o ISJD pretendem, solidariamente, concretizar.

João Correia

Presidente do do Recolhimento do Bom Jesus

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