Romaria da Senhora do Monte
Num Domingo à tarde, numa dessas tardes de Outono matizadas pelo acobreado das folhas espalhadas pelo chão, os raios do sol poente filtrados pelos ramos das árvores faziam evocar um passado cheio de vivências que jamais se apagarão.
Sentada num dos bancos do Largo da Fonte, pensava nas romarias que outrora ali se faziam. Vindos de todos os pontos da Ilha, os romeiros afluíam em massa para pagar as suas promessas à Senhora do Monte.
A par da fé que levavam no peito, a alegria incontida manifestava-se pelos cantos, ao som do harmónio e do rajão.
Em todo o Velho Caminho do Monte, se ouviam trovas, despiques e embora o trajecto fosse longo, o cansaço não os vencia e o bailarico continuava.
Dos balcões, iam recebendo os ramalhetes de manjerico e pessegueiro para serem tocados no manto de Nossa Senhora, que no Altar-Mor se encontrava rodeada de lumes e flores.
E pela noite adiante a romaria prosseguia, os “brincos” pulavam por todos os lados até ao sítio das Babosas.
E era ver as barracas com bolos do caco, carne de vinho e alhos, não faltando as tradicionais espetadas com o sabor especial que lhe dava o pau de louro. Para os mais pequenitos havia os colares de rebuçados, de pêras passadas e as bonecas de massa amarela não podiam faltar.
Já cansados alguns, fazendo do chão seu leito, adormeciam profundamente; outros, com sua vela acesa na mão, subiam a escadaria, de joelhos, cumprindo alguma promessa feita em momento de aflição.
No altar, com certeza, a Senhora sorria...
M.I.S.