Família, política e ética...

Família, sem dúvida, a instituição social com efeito mais marcante sobre todos os seus membros... aquilo que afecta um... afecta todos... para o bem e para a o mal... pela família, abdicamos de muito do que queremos, podemos e/ou devemos... Política vejo como um serviço ao povo, é dar de si pelo bem maior, pelo bem comum... Política é cidadania, é contribuir para a felicidade do outro que a mim não é nada, política é contribuir para uma sociedade melhor, mais justa, mais equitativa... Ética, aos olhos de Mário Sérgio Cortelha, é a resposta constante a três questões fundamentais que todos os dias surgem na nossa vida: quero, posso, devo... porque na realidade todos os dias temos de tomar decisões em que estas três questões estão envolvidas, todas as decisões na nossa vida passam pela resposta a estas três questões... Há coisas que quero mas não posso, há coisas que posso mas não devo, há coisas que devo mas não quero... daí que o Homem é um ser ético...Nestes últimos dias mais do que nunca saem notícias de um governo que mais do que governo é neste momento uma família... Em causa não estão capacidades, competências das pessoas envolvidas... em causa estão questões éticas... Quero, posso e devo... Todos sabemos que os laços de sangue representam a união mais forte entre as pessoas... Os laços de sangue influenciam decisões que projectam a família acima do bem comum... Os laços de sangue protegem o indivíduo de um todo que poderá ser contrário a decisões que não beneficiariam o indivíduo mas que seriam as melhores para o todo... Como pode um governante tomar as melhores decisões sob o peso, sob a influência de familiares que num outro lado não serão beneficiados pelas consequências dessas decisões?? Quero, posso e devo... sempre presentes... na política mais que em qualquer lado, a ética tem de existir... A política não deverá ser uma família... Porque a família existe para dentro, funciona para si... não funciona para os outros... Vive com os outros mas não garante que aos outros chegue o mesmo que a si... O instinto de protecção dos nossos é superior a tudo porque em causa estão instintos básicos de sobrevivência... Como é que se pode decidir de forma isenta para o bem-comum se logo à partida existem condicionantes que poderão fazer com que essas decisões prejudiquem o todo em vez de um pequeno núcleo que se sobrepõe e faz valer a sua vontade não por força da argumentação e da razão mas por vontade de alguém que é o patriarca de alguns... Imagine-se um Conselho de Ministros onde todos são família... Que dinâmica de funcionamento... Quero, posso, devo? Questões fundamentais... Vivemos uns com os outros, precisamos uns dos outros, nós e os outros temos papéis a desempenhar e ninguém é mais importante que ninguém porque o sucesso de uma sociedade é o resultado do sucesso individual que vai dar ao outro condições para que ele também seja bem sucedido no papel que desempenha... A família representa a unidade, não representa o todo... e quando o todo não é família... o todo sai prejudicado... Por este caminho não vamos lá... Quero? Posso? Devo??? Eis a questão...

Sidónio Faria