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Aumentar a idade da reforma: a solução mais fácil mas....

Os trabalhadores descontam todos os meses para a Caixa Geral de Aposentações ou para a Segurança Social. O empregador também desconta todos os meses para a mesma entidade. Se somarmos ambos os descontos são mais de 30% do nosso rendimento que nos é retirado com a promessa de que um dia mais tarde teremos direito a um rendimento quando deixarmos de trabalhar assim como a outros benefícios como o subsídio de desemprego ou apoio na doença para citar só dois.

Considero os montantes que são retirados como uma poupança forçada, pois não podemos deixar de a fazer. Em paralelo, os que podem vão fazendo uma poupança suplementar para viverem na altura que deixarem de trabalhar. No entanto, existe uma grande diferença nos dois tipos de poupança pois enquanto na segunda o indivíduo é responsável pela aplicações que faz para as ver crescer (sendo que até pode não fazer nada e acumulá-la simplesmente), na primeira a instituição que recebe os descontos decide as aplicações que faz, sendo que a maior parte do dinheiro obtido é para pagar as reformas de antigos subscritores.

Nós aceitamos descontar porque acreditamos que a instituição vai ter capacidade de nos pagar no futuro. Com o envelhecimento da população e as dificuldades que se prevêem uma solução fácil de as resolver é aumentar a idade da reforma. Deste modo, as pessoas só poderão receber mais tarde, recebendo durante menos anos e havendo menos pessoas a receber em cada ano. Ao mesmo tempo o aumento da idade da reforma faz com que quem pede a reforma antecipada com uma certa idade receba menos. Parece ser tudo uma questão de contas tendo por base a estimativa de vida mas não o é porque, em alternativa, podia-se manter a idade da reforma e diminuir o montante a receber nessa idade, montante que iria crescer se o trabalhador adiasse a sua reforma.

O aumento a idade da reforma traz implicações sérias para a vida das pessoas. Estudos mostram que as pessoas normalmente se sentem mais felizes, têm menos problemas de saúde física e mental quando se reformam quando comparados com o que sentiriam se continuassem a trabalhar. Durante os anos da crise a sorte de muitos trabalhadores foi poderem se reformar evitando todo o stress do desemprego e da procura sem sucesso por novo emprego. Em Portugal, contrariamente às conclusões dos estudos, teima-se em passar a ideologia de que se tem que trabalhar indefinidamente a bem da saúde e do envelhecimento ativo. Ora será que não pode haver envelhecimento ativo e feliz para além da dimensão trabalho?

O custo para sociedade do aumento da idade da reforma ainda está por fazer e, por isso, tem que haver muita cautela quando se pensar em aumentar significativamente essa idade porque ao tentarmos resolver um problema podemos estar a criar outros muito maiores e sérios.

A continuarmos neste caminho de aumento da idade da reforma, Portugal, em breve, estará transformado num paraíso de jovens estrangeiros reformados e felizes servidos por idosos portugueses a trabalhar, doentes e deprimidos.