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Construir mais futuro

A Autonomia é demasiado importante para ser reduzida a uma arma de arremesso

A magia do fogo de artifício, na passagem de ano, é a inspiração ideal para exprimir desejos e para projetar aquilo que queremos, e aquilo com que sonhamos, para o ano novo. Nunca fui de pedir grandes coisas; apenas peço saúde e acredito que, a partir daí, tudo o que de bom a vida nos reserva, acabará por acontecer. Politicamente, 2019 será o ano mais interessante das ultimas décadas, não só porque teremos três atos eleitorais, mas especialmente porque na Região, perspetiva-se uma mudança política real 42 anos depois. Acredito que a comemoração dos 600 anos do descobrimento das Ilhas da Madeira e do Porto Santo será o pano de fundo de outro episódio histórico nos destinos desta Região Autónoma, que terá como grandes vencedores os madeirenses e os porto-santenses.

À entrada deste novo ano, temos a certeza de uma coisa: a Madeira que temos não é a Madeira que queremos. Isso constata-se facilmente pela inexistência de um projeto político, pela ausência de ideias e por um Governo Regional que trabalha para o PSD, e não para a Madeira. Os Governos não servem para servir os interesses dos partidos e os partidos não servem para se servirem dos Governos. Um Governo serve para governar para as pessoas. Quando ouvimos nos discursos oficiais o “disco riscado” de que a economia está a crescer há mais de 60 meses, percebemos que era preciso mais; era preciso que o Governo Regional largasse a engenharia contabilística e fizesse contas à realidade, que é onde vivem os madeirenses e onde estão as dificuldades que a grande maioria deles enfrenta.

É por isso que a Madeira que temos é a Madeira que não queremos. Não queremos a taxa de desemprego mais alta do País; não queremos a mais alta taxa de analfabetismo; não queremos que 1 em cada 4 alunos abandonem a escola precocemente; não queremos que 66% dos madeirenses não tenham o ensino secundário; não queremos uma lista com 20 mil cirurgias em espera no Serviço Regional de Saúde, a aumentar constantemente, com mais de um milhar de inscritos desde o Verão; não queremos uma lista de espera de quase 40 mil consultas de especialidade; não queremos ser uma das Regiões do País com um dos valores mais elevados de risco de pobreza; e não queremos – não podemos! – ser uma Região que continua refém de jogos políticos que não potenciam desenvolvimento nenhum.

O Orçamento Regional para 2019 era uma oportunidade para dar algum sinal, no sentido do virar de página há tanto esperado, procurando responder com políticas concretas aos nossos problemas sociais e apresentando soluções para as próximas gerações. Infelizmente, o Orçamento Regional para 2019 é só mais uma oportunidade perdida, e uma prova cabal de que quem atualmente governa não quis, ou não soube, adaptar-se aos novos tempos, refugiando-se, como sempre, na fórmula do betão, do compadrio e dos investimentos despesistas e sem estratégia.

O que a Madeira precisa é de uma nova forma de governação e de desenvolvimento que coloque as pessoas em primeiro lugar, e para isso, sei o quanto posso contar com a vontade e a perseverança do nosso povo, que desbravou este território difícil e que conquistou a Autonomia, que é de todos, mas cujo sucesso depende, mais do que nunca, daquilo que formos capazes de fazer. E porquê? Porque a Autonomia só se afirma com uma política de desenvolvimento. A Autonomia é demasiado importante para ser reduzida a uma arma de arremesso, e tem de ser usada com responsabilidade, com firmeza na defesa intransigente dos madeirenses, e em prol da coesão desta Região. A Autonomia serve para unir os madeirenses, não para dividi-los, serve para mobilizá-los, não para ostracizá-los, serve para chamar a sociedade civil à missão de definir uma nova geração de políticas públicas, não para distinguir os iluminados dos outros.

É por isso que a Madeira que queremos é aquela em que os cidadãos e cidadãs tenham voz ativa; que seja um exemplo em políticas de inclusão, com uma economia pujante e diversificada; que tenha um modelo de Educação que promova a qualificação da nossa população; que tenha uma governação transparente e participada; que tenha políticas que promovam a coesão territorial; que tenha a Saúde como prioridade; que tenha um modelo económico que promova a iniciativa privada sem clientelismos; que tenha um futuro que não viva do passado. E assim, neste virar de ano, em que se deseja um virar de página, espero que a política se possa fazer com responsabilidade, procurando fazer o bem, em liberdade, respeitando o direito e a opinião de todos. Ao futuro.