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Oprah Winfrey põe auditório dos Globos de Ouro de pé com poderoso discurso

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Oprah Winfrey, uma das mulheres mais influentes do mundo, pôs de pé o auditório dos Globos de Ouro, com um discurso contra “os homens poderosos e brutais” que dominaram o mundo, afirmando que “o seu tempo chegou ao fim”.

Foi com um grande aplauso que foram recebidas as palavras da apresentadora de televisão e atriz norte-americana, a quem foi atribuído o Globo de Ouro Cecil B. DeMille, por ser “um exemplo a seguir para mulheres e jovens”, além de “uma das mulheres mais influentes” da atualidade, segundo a Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA, na sigla em inglês).

A também produtora e empresária começou por recordar quando, ainda criança, assistiu pela televisão a cerimónia dos Óscares que Sidney Poitier venceu o Óscar de melhor ator, o mesmo Sidney Poitier que viria a ser distinguido também com o Cecil B. DeMille nos Globos de Ouro de 1982.

“Tenho para mim que, neste momento, haverá alguma menina a ver-me transformar na primeira mulher negra a receber este mesmo prémio”, afirmou Oprah Winfrey, que dedicou o galardão a essas crianças e mulheres que levantaram a sua voz contra abusos e injustiças.

“É uma honra - uma honra e um privilégio partilhar esta noite com todos vocês e também com os incríveis homens e mulheres que me inspiram, que me desafiam, que me sustêm, e fizeram com que a minha jornada até este ponto fosse possível”.

Também agradeceu o trabalho da HFPA: “Todos nós sabemos que a imprensa tem estado sob ataque por estes dias, mas também sabemos que é a insaciável dedicação da imprensa em pôr a descoberto a verdade absoluta que nos impede de fecharmos os olhos à corrupção e à injustiça - aos tiranos e vítimas e segredos e mentiras”.

“Dizer a verdade é a ferramenta mais poderosa que todos temos”, disse a apresentadora, declarando-se especialmente “inspirada e orgulhosa” pelas mulheres que se sentiram com capacidade para falar e partilhar as suas experiências pessoais.

Em concreto, as que falaram recentemente de um problema em Hollywood, o dos abusos sexuais, que afeta todo o espectro da sociedade. “Não é uma história que afeta apenas a indústria do entretenimento. É algo que transcende a cultura, geografia, raça, religião, política ou local de trabalho. Por isso, esta noite, quero expressar a minha gratidão a todas as mulheres que aguentaram anos de abusos e maus tratos porque, tal como a minha mãe, tinham filhos para alimentar, contas para pagar e sonhos para realizar”.

“Durante demasiado tempo, as mulheres não foram ouvidas e eram desacreditadas se ousassem falar a sua verdade contra o poder desses homens, mas o tempo deles acabou”, sublinhou.

“Time’s Up” (”Acabou-se o tempo”), repetiu Winfrey, usando o lema que designa o recém-criado fundo lançado por mais de 300 mulheres poderosas de Hollywood destinado a ajudar mulheres menos privilegiadas a defenderem-se de possíveis abusos sexuais no local de trabalho.

“Eu entrevistei e retratei pessoas que testemunharam algumas das coisas mais horríveis que a vida pode atirar contra ti, mas a única qualidade que todas parecem ter em comum é a capacidade de manterem a esperança numa manhã mais clara mesmo durante as nossas noites mais sombrias. Por isso, quero que todas as meninas saibam neste momento que um novo dia está no horizonte”.

E, prosseguiu, “quando esse novo dia finalmente amanhecer, vai ser por causa de inúmeras mulheres magníficas, muitas das quais estão aqui nesta sala esta noite, e por causa de alguns homens fenomenais que lutam duramente para ter a certeza de que vão tornar-se nos líderes que nos vão levar a um tempo em que ninguém mais tenha que dizer ‘Me too’ [’Eu também’] outra vez”, concluiu Winfrey diante de um auditório emocionado que se colocou de pé para a ovacionar.

Um discurso apaixonado que todo o mundo esperava de um símbolo como Oprah Winfrey, que resumiu, com as suas palavras, a postura de atrizes de Hollywood sobre um escândalo que estalou com as denúncias contra o influente produtor Harvey Weinstein, mas que cresceu como uma bola de neve, estendendo-se a uma série de homens dentro e fora de Hollywood.

Candidata ao Óscar e ao Globo de Ouro pelo papel em “A Cor Púrpura” (1985), Winfrey recebeu, em 2012, o prémio Jean Hershot da Academia de Hollywood pelo seu trabalho humanitário e no domingo o Cecil B. DeMille, um reconhecimento que foi feito em anteriores edições dos Globos de Ouro a artistas como Meryl Streep, Denzel Washington, George Clooney, Woody Allen, Jodie Foster, Morgan Freeman ou Robert De Niro.

A gala da 75.ª edição dos Globos de Ouro, os prémios de cinema e televisão dos Estados Unidos, que começou este domingo no hotel Beverly Hilton de Los Angeles (Califórnia).

Trata-se da primeira cerimónia da indústria cinematográfica desde que estalou a vaga de denúncias de assédio e abuso sexual envolvendo produtores e atores de Hollywood, cujo tapete vermelho ficou desde logo inundando por vestidos e trajes negros.