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Merkel criticada no partido pelo “erro político” de ceder Finanças ao SPD

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A chanceler alemã, Angela Merkel, foi hoje alvo de críticas do próprio partido, a União Democrata-Cristã (CDU), pelo “erro político” de ceder o Ministério das Finanças ao Partido Social-Democrata (SPD) numa futura coligação de governo.

O deputado Christian von Steffen, da ala mais conservadora da CDU, afirmou à televisão pública ARD que essa transferência de competências não vai suscitar “uma explosão de alegria” no partido.

Von Steffen considerou que com o anterior ministro das Finanças, o conservador Wolfgang Schäuble, havia a segurança de que, nas negociações europeias, “servia os interesses dos alemães e deixava claro que não há concessões, mas contrapartidas”.

“Agora há o risco de, com um ministro das Finanças do SPD, a política europeia do SPD ganhar relevância no Ministério”, afirmou, numa referência ao apoio dos sociais-democratas a uma Europa mais solidária e com mais investimento para promover o crescimento.

O deputado conservador considerou que Olaf Scholz, o nome apontado para as Finanças é “um parceiro de negociação em quem se pode confiar”, mas disse que é “decisivo” o “ambiente político em que se move”.

O presidente do conselho económico da CDU, Wolfgang Steiger, qualificou de “lamentável” o resultado das negociações para um acordo de coligação numa declaração ao jornal regional Neue Osnabrücker Zeitung e o chefe do governo regional de Schleswig-Holstein (norte), Daniel Günther, falou, mais diplomaticamente, de “um resultado que não pode satisfazer”.

Também para Steiger existe um risco de ver “a política europeia do SPD instalar-se no Ministério das Finanças”.

O acordo de governo CDU/CSU-SPD concluído na quarta-feira, que culminou quase duas semanas de negociações, atribui aos sociais-democratas as pastas das Finanças, há oito anos nas mãos dos conservadores, Negócios Estrangeiros, Trabalho, Família, Justiça e Ambiente.

A CDU fica com a chancelaria e as pastas da Defesa, Economia e Energia, Saúde, Educação e Agricultura, e o seu aliado bávaro União Social-Cristã (CSU) com o Ministério do Interior, dos Transportes e da Cooperação Económica.

“Merkel ofereceu o governo ao SPD”, escreveu hoje o tabloide Bild, o mais lido na Alemanha, acrescentando que a chanceler se preocupou apenas em continuar no cargo a qualquer preço.

O acordo de coligação tem ainda de ser aprovado pela maioria dos mais de 460.000 militantes do SPD, numa votação que decorre entre 20 de fevereiro e 2 de março e cujo resultado será anunciado a 4 de março.

A reedição de uma “grande coligação” com a CDU divide o SPD, divisão que ficou patente em janeiro no congresso extraordinário em que apenas 56% dos delegados foram favoráveis à abertura de negociações com os conservadores.

Face às críticas internas na CDU, escreve hoje ironicamente o Süddeutsche Zeitung, é positivo a CDU não ter condicionado a formação de um governo ao voto dos militantes.