A visita polémica de Cristiano Ronaldo à Casa Branca — realizada na noite de terça para quarta-feira — está a dar que falar. Entre quem aplaude e quem critica a atitude do futebolista madeirense, multiplicam-se as publicações com fotografias alegadamente tiradas durante a presença de Ronaldo na residência oficial do Presidente dos Estados Unidos.

Entre estas publicações encontra-se a do vereador da Câmara Municipal de Lisboa eleito pelo Chega, Bruno Mascarenhas. Na imagem que partilhou, vê-se Cristiano Ronaldo e Donald Trump, lado a lado, a apertar a mão na Sala Oval. Mas será essa imagem real, ou trata-se de uma composição criada por inteligência artificial (IA)?

A publicação de Bruno Mascarenhas foi simples: “Já não há palavras para descrever o nosso enorme Cristiano Ronaldo. Admiração imensa pelo talento, perseverança, espírito de sacrifício e sucesso deste extraordinário português. Merece tudo o que conseguiu.”

Estas palavras, acompanhadas pela imagem em causa, geraram mais de 4.500 comentários até às 16 horas de hoje. Foi entre esses comentários que encontrámos um dos poucos utilizadores que questionou a autenticidade da fotografia, afirmando: “Desculpem lá, mas isto parece claramente IA. O pescoço do presidente está estranho e a luz não bate certo. Não vi esta foto em nenhum jornal credível, por isso cheira-me a montagem.”

Foi precisamente isso que procurámos esclarecer, recorrendo a várias ferramentas informáticas, software de análise de imagem, modelos de IA e pesquisa de notícias que pudessem confirmar ou desmentir o encontro na Sala Oval.

Análise dos comentários

Dos mais de 4.500 comentários, analisámos cerca de 750. A distribuição temática foi a seguinte:

420 (56%) — exaltação de Cristiano Ronaldo

170 (23%) — defesa do jogador (resposta a críticas, acusações de inveja, etc.)

70 (9%) — críticas ao jogador ou à visita

55 (7%) — comentários de natureza política

20 (2,5%) — referências religiosas

12 (1,6%) — colocaram em causa a autenticidade da imagem

Ou seja: a esmagadora maioria não questionou a veracidade da fotografia. A imagem foi amplamente aceite como verdadeira, sobretudo porque confirma uma narrativa emocional dominante: orgulho nacional, grandeza de Ronaldo e ligação a líderes poderosos.

A minoria que suspeitou de IA baseou-se sobretudo em percepções visuais (“a cara não encaixa no pescoço”, “a luz não é natural”) e na ausência de qualquer notícia credível sobre um encontro formal entre Ronaldo e Trump.

Conclusões técnicas da análise da imagem

A análise forense da fotografia — incluindo detecção de padrões de IA, avaliação anatómica, luz e sombras, proporções e metadados — aponta para uma probabilidade praticamente absoluta de a imagem ser falsa.

Aqui ficam os principais indícios:

1. Proporções corporais anómalas - Cabeça de Ronaldo ligeiramente desproporcionada, demasiado polida; Mãos mal definidas no aperto de mão — erro típico de imagens geradas por IA.

2. Iluminação impossível - Ambos os rostos apresentam luz homogénea, sem sombras naturais; Nas fotos reais do Salão Oval, a luz é sempre assimétrica.

3. Cenário do Salão Oval “perfeito demais” - Simetria irreal, aspeto estéril, e ausência de profundidade natural; Parece um modelo 3D ou fundo renderizado.

4. Têxteis artificiais - Fatos com textura lisa, sem vincos realistas; Aspeto ligeiramente “plástico”, típico de renderização.

5. Ausência total de metadados - A imagem não contém: data, identificação da câmara, software de edição, GPS, nem qualquer EXIF (dados de dados) mínimo.

Isto é típico de imagens geradas por IA ou descarregadas de plataformas que removem EXIF — mas não condiz com fotografias oficiais da Casa Branca, que incluem sempre EXIF detalhado.

6. Marca invisível de geração - No canto inferior direito existe um símbolo igual ao usado pelo Google Gemini nas imagens geradas por IA. Trata-se do SynthID, uma marca de água que identifica conteúdo sintético gerado por modelos da Google.

7. Registo oficial - Apesar de Ronaldo ter estado em eventos públicos na Casa Branca, até esta tarde não existia qualquer registo credível — fotográfico ou jornalístico — de um aperto de mão formal com Donald Trump no interior da Sala Oval. Só há pouco, a Casa Branca divulgou imagens, o que demonstra, uma vez mais que a fotografia em análise é construída. Bastaria olhar à roupa usada.

Conclusão

Perante todos estes elementos — visuais, técnicos, contextuais e documentais — não restam quaisquer dúvidas de que a imagem divulgada é falsa.

Assim, é verdadeira a afirmação do utilizador que, no Facebook, classificou a fotografia como montagem/IA.

A imagem difundida, incluindo a publicada pelo vereador do Chega em Lisboa, é uma criação de inteligência artificial e não corresponde a qualquer acontecimento real.