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Agricultor de Sabrosa teme o que aí vem mas não vai parar

Foto Arquivo/ Artur Machado / Global Imagens
Foto Arquivo/ Artur Machado / Global Imagens

O agricultor Manuel Coelho, de Sabrosa, garante que não vai parar o trabalho nas estufas, mas devido à apreensão provocada pela Covid-19 e as quebras nas vendas prevê reduzir a produção de hortícolas em cerca de 30%.

“Parar está fora de questão, mas provavelmente vamos reduzir alguns 30%. Temos medo. Hoje qualquer produção fica caríssima, mais o custo da mão-de-obra e se depois chegamos ao final e não vendermos é muito complicado”, afirmou hoje à agência Lusa o produtor.

Quando ainda se estava a reerguer do mau tempo que lhe destruiu estufas em dezembro, surge agora mais esta “grande dificuldade” provocada pela pandemia causada pelo novo coronavírus.

Conjuntamente com um sócio, Manuel Coelho explora estufas em Pinhão Cel, concelho de Sabrosa, e Folhadela e Constantim, em Vila Real.

Da terra colhem, nesta altura, couves, alfaces e alho francês, que vendem para Vila Real, nomeadamente para as duas lojas que possuem no mercado municipal e duas grandes superfícies e ainda para Xinzo de Limia, em Espanha.

O mercado espanhol representa cerca de 50% do mercado destes agricultores e o fecho das fronteiras fez soar os alarmes, embora os transportes de mercadorias ainda possam passar.

“As coisas já não estão a correr bem, temos duas lojas no mercado de Vila Real e as vendas caíram, esta semana não tivemos quase clientes nenhuns e o mais certo é aquilo fechar”, salientou.

É do rendimento destas lojas, ressalvou, que “sai uma grande verba para o pagamento de pessoal”. Segundo referiu, nesta altura têm 10 pessoas a trabalhar.

Por agora, ultima-se a preparação dos solos para as novas culturas como o tomate, feijão-verde, pimento, mas Manuel Coelho fala numa altura de “indecisão”.

“Vamos apostar no que temos a certeza de que se irá vender, o resto é melhor não arriscar. Costumávamos plantar mais um bocadinho e depois até se vendia sempre”, referiu.

Os dois agricultores costumavam produzir à volta de 150 toneladas de hortícolas por ano.

“Nós vivemos da campanha do verão, entre junho e o final de outubro, se nessa altura não conseguirmos vender, é impossível aguentarmos os empregados”, afirmou.

Todos os dias têm sido diferentes, o Governo decreta medidas diariamente e, segundo este agricultor, “ninguém sabe muito bem o que aí vem ou quanto tempo a situação se vai manter”.

“Ninguém vai passar fome, mas os produtos também podem não conseguir chegar ao consumidor final”, observou.

Manuel Coelho disse que já nem quer ver televisão ou ouvir notícias.

“Fico com ansiedade, nervoso, sei lá como é que eu fico. A cada dia que passa é mais pessoal infetado”, sublinhou.

Em Quintã, Vila Pouca de Aguiar, Norberto Pires produz para uma grande superfície e disse à Lusa que a indicação que tem é a de manter a produção prevista de feijão-verde, pimento ou pepino.

O plano foi estabelecido antes da crise provocada pelo novo coronavírus e, segundo o agricultor, vai-se manter.

Por isso mesmo, os solos das estufas estão a ser preparados para as novas produções.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou na terça-feira o número de casos confirmados de infeção para 448, mais 117 do que na segunda-feira, dia em que se registou a primeira morte no país.

Portugal está em estado de alerta desde sexta-feira, e o Governo colocou os meios de proteção civil e as forças e serviços de segurança em prontidão.

Entre as medidas para conter a pandemia, o Governo suspendeu as atividades letivas presenciais em todas as escolas desde segunda-feira e impôs restrições em estabelecimentos comerciais e transportes, entre outras.

O Governo também anunciou o controlo de fronteiras terrestres com Espanha, passando a existir nove pontos de passagem e exclusivamente destinados para transporte de mercadorias e trabalhadores que tenham de se deslocar por razões profissionais.

Desde que o surto começou na China, em dezembro, o coronavírus responsável pela pandemia da Covid-19 infetou mais de 189 mil pessoas, das quais mais de 7.800 morreram.

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