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Análise

A grande incógnita

A partir de amanhã vamos dar uns passos, tímidos, em direcção à luz ao fundo do túnel, porque a economia não aguenta mais tempo de confinamento absoluto.

Na sexta-feira contavam-se 2.960 empresas em layoff na Região, abrangendo 37 mil trabalhadores! No mesmo dia 4.014 trabalhadores independentes tinham já pedido apoio extraordinário à Segurança Social por quebra da actividade! Os números não têm parado de crescer dia após dia, como o DIÁRIO tem noticiado, desde que o estado de emergência foi decretado. O tecido económico madeirense, assente maioritariamente nas micro e pequenas empresas atravessa um caminho árido. Não tenhamos dúvidas que o desemprego vai disparar e que muitas famílias vão passar por grandes necessidades, o que já começa a ser uma realidade, segundo as associações de ajuda alimentar. Os mais debilitados vão ainda ficar mais fragilizados.

O tempo da tormenta das portas fechadas correu bem na Madeira. A população respeitou as medidas de restrição e as autoridades conseguiram vedar focos de propagação da infecção. Por cá a covid-19 não fez ainda nenhuma vítima mortal e isso é, por si só, motivo de regozijo. Agimos antecipadamente e isso fez, claramente, a diferença.

A partir de amanhã damos um passo em frente, mas com uma mão no travão, para não termos de recuar.

Os próximos meses são incertos e dependerão do comportamento de cada um de nós. Não nos livramos do vírus, por isso não podemos regressar à velha rotina. Por mais que isso nos custe. Tudo será diferente, mas tudo poderá ser melhor se remarmos para o mesmo lado, não descurando as recomendações de afastamento social, de higiene, da etiqueta respiratória e por aí fora.

O Estado tem de ter engenho e arte para que as ondas de choque provocadas pelo tsunami não ‘matem’ as empresas, a economia, as famílias, os mais pobres e excluídos e a esperança.

Que os tempos da austeridade e do “monumental aumento de impostos” não regressem, como factor determinante para o relançamento do país. Ficaram célebres, em 2012, as palavras do banqueiro Fernando Ulrich, num debate sobre fiscalidade. O “aguenta, aguenta” com que se referiu à fatalidade, que se concretizou, de os portugueses suportarem mais medidas de aperto fiscal (ao nível do confisco) geraram duas inevitabilidades: milhares no desemprego e uma onda de emigração como já não acontecia há décadas.

Não podemos regressar ao famigerado período da troika apesar de muitos economistas não terem dúvidas de que a factura das ajudas públicas vai ser apresentada a breve prazo. Que a pandemia não seja sinónimo de agravamento da crise e das desigualdades sociais. O eleitorado estará atento.

Este tempo é de solidariedade global. O governo central não pode continuar a ignorar os apelos do governo regional. Não pode ignorar que a Madeira precisa de suporte financeiro para acudir às suas empresas, para reactivar o motor da sua economia, o turismo. As reivindicações insulares são mais do que justas. É imperioso que se suspenda a Lei das Finanças Regionais e os juros da dívida. O governo da República não pode olhar para as regiões autónomas com o tacticismo eleitoral habitual. Não faz sentido dialogar com todos os agentes do país, excluindo a Madeira. Lamentável e inadmissível. Lisboa está a tratar a Região como Bruxelas a tratou durante os anos mais penosos da crise económica. Com sobranceria. A oportunidade além da crise tem se surgir, sem constituir mais uma incógnita.

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