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Reacção da oposição será determinante para o futuro do Brasil

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O director do departamento de Relações Internacionais da Universidade Católica considerou hoje que tão importante como a eleição de Jair Bolsonaro será a reacção da oposição, cujo grau de contestação ditará a resposta política do novo Presidente.

O futuro do Brasil “depende muito da reacção dos que perderam, e esta é uma das grandes incógnitas para os próximos tempos; haverá manifestações dos 45% que votaram Haddad, e o grau de violência e contestação dessas manifestações e o grau de resposta do novo Presidente pode condicionar muito do que seja o andamento” da Presidência de Bolsonaro, disse Ricardo Ferreira Reis à Lusa.

Para o também director do Centro de Estudos Aplicados da Católica, a votação de domingo mostrou a “rejeição do modelo que governou o Brasil nos últimos 12 anos e o modelo do Partido dos Trabalhadores (PT), em particular dos escândalos de corrupção que envolveram o Estado brasileiro numa apropriação pelo PT e da ‘comandita’ do Lula”.

Bolsonaro é, assim, “uma opção por rejeição e não por opção, o que traz muitas incertezas e incógnitas”.

Questionado sobre um possível regresso a uma ditadura, que foi um dos principais argumentos usados pelos apoiantes do PT na campanha, Ricardo Ferreira Reis rejeitou essa possibilidade.

“O Brasil tem instituições democráticas bem mais sólidas que aparentemente as últimas semanas de campanha vinham defendendo, por isso Bolsonaro não vai conseguir mudar muito do que é o sistema político brasileiro, nomeadamente a questão dos militares voltarem ao poder está muito longe de ser uma realidade”, considerou.

O professor universitário alertou, no entanto, que “a reacção dos perdedores é bastante importante” e considera que a ditadura não faz parte dos planos do novo Presidente.

“Por si só, Bolsonaro e as pessoas à volta dele, os militares, não têm uma vocação para a ditadura, podem ter um discurso colorido, mais ou menos exótico para os nossos padrões europeus, mas a democracia brasileira não está tão em perigo quanto isso”, defendeu o director do departamento de Relações Internacionais da Católica.

Ainda assim, admitiu, esse perigo pode vir por reacção: “Se forem confrontados com muita instabilidade social, como a Dilma foi antes do Mundial e dos Jogos Olímpicos, as manifestações contra ele podem desencadear de um governo musculado reacções imprevisíveis e sobre isso tenho algum receio, mas não vejo que essa seja uma vocação natural ou o caminho a seguir, mas pode ser induzido e não está na agenda dele fazer um golpe de Estado em 2020 ou uma coisa desse género”, concluiu o professor.

Jair Messias Bolsonaro, 63 anos, capitão do Exército brasileiro reformado, foi eleito no domingo, na segunda volta das eleições presidenciais, o 38.º Presidente da República Federativa do Brasil, com 55,1% dos votos.

De acordo com dados do Supremo Tribunal Eleitoral brasileiro, Fernando Haddad, candidato do Partido dos Trabalhadores (PT, esquerda), conquistou 44,9% dos votos, e a abstenção foi de 21% de um total de mais de 147,3 milhões eleitores inscritos.