Madeira

Segundo dia da volta à Madeira pelo Caminho Real 23 repleto de momentos genuínos

None

A III Volta à Madeira pelo Caminho Real continuou hoje, depois da comitiva composta por meia centena de caminheiros ter partido ontem, do Porto Moniz, para uma aventura que irá durar oito dias. “Podíamos contar-vos muita coisa”, assim começa a descrever Marta Camacho, uma das participantes que relatou ao DIÁRIO a aventura na primeira pessoa.

“Aqui os dias passam sem que os contemos: contam-se as distâncias, as subidas que faltam, os cafés, os escaldões e as bolhas nos pés, contam-se as pessoas que nos recebem, as perguntas de quem vem pela primeira vez e as explicações de quem está sempre cá, contam-se os ‘nunca mais venho’ e os ‘acho que afinal vou ficar mais um dia’, contam-se os carimbos de onde passamos nas cadernetas, que se acumulam como motivos de orgulho. Contam-se todos e todos contam, e ninguém é deixado para trás”, referiu a amante do pedestrianismo que integra a comitiva da Associação do Caminho Real da Madeira.

“Podíamos contar-vos uma história de auto-descoberta, mas fazer o Caminho dá-nos o conhecimento de algo muito maior que nós próprios: a História da nossa terra e da nossa gente, as histórias de quem nos acompanha, sobre o que viveram e querem viver e as nossas próprias histórias contadas aos outros. Podíamos contar tanta coisa, mas vamos apenas contar o nosso dia”, escreveu Marta Camacho, antes de resumir todas as peripécias deste domingo, onde a comitiva tem chegada prevista a Santana.

“Saímos da igreja da Ponta Delgada às 08h45 e iniciámos a primeira das cinco subidas que nos esperavam até Santana. O dia de hoje pode ser resumido em dois números: 40 e 5-40 pessoas rumo a cinco montanhas. Ao chegar ao fim da primeira apressámo-nos a perguntar: “As outras não vão ser tão más , pois não? A que custa mais é sempre a primeira”, ouvimos risos dos mais experientes: ‘Esta foi a mais fácil do dia’. Esta notícia não desanimou os escoteiros que nos acompanham, que continuaram a cantar como tem sido habitual ao longo do percurso. Por volta das 10 chegámos à Boa Ventura e recolhemos o primeiro selo do dia no bar O Tijolo. Depois da pausa andámos para a igreja. Daí começámos a segunda montanha no dia, prometeram-nos uma das melhores vistas que já tínhamos visto, e cumpriram. Na segunda subida começaram as primeiras pausas e as primeiras dores, acompanhadas do companheirismo que está sempre presente. Há mais espírito de equipa nestes trilhos do que em muitos relvados e pavilhões. Ao meio dia demos início à terceira e mais difícil subida do dia, já nos tinham avisado que seria assim: duas horas a subir entre o Arco de São Jorge e a Ribeira Funda. Os escoteiros já não cantavam e só se ouviam nossos os pés no chão. Às 15h00 os cachecóis do Marítimo saíram das mochilas para os bordões, instigando a picardia saudável com os adeptos do Nacional que integram a comitiva. Às 15h30 tocam os sinos para o almoço: chegámos ao restaurante do senhor Lúcio. Se perceberam a deixa dos sinos é porque já tiveram o prazer de ser recebidos aqui, se não perceberam, têm de vir a São Jorge. O estabelecimento chama-se snack-bar Adega Jardim, mas quando vamos comer em casa nunca tratamos os sítios pelo nome, mas sim pelo nome de quem lhes dá vida ‘vamos ao sr. Lúcio’. Acabámos de almoçar, gostava de continuar a contar-vos o nosso dia, mas temos de nos fazer ao Caminho, não sem antes visitar a emblemática igreja Matriz de São Jorge, com o João Márcio como cicerone, que a foi a cereja no topo do bolo deste Domingo de Ramos. Um local de culto que se assume como uma caixinha de surpresas histórica, qual pérola nortenha. Com energias recarregadas voltamos a andar, porque como estava escrito na parede do senhor Lúcio, ‘a vida é dura para quem é mole’, e queremos chegar a Santana à luz do dia. Tínhamos muito mais para dizer, e podíamos contar-vos tudo o que aqui se passa, mas vocês não iam acreditar, o Caminho só é Real para quem o faz”.