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Espectáculo sobre migração portuguesa no Brasil apresentado no Porto

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O espectáculo “Entrevistas”, criado por Tiago Cadete a partir de entrevistas com portugueses emigrados no Brasil, mas sobre o “fenómeno migrante em si”, será apresentado no sábado no Auditório da Junta de Freguesia de Campanhã, no Porto.

Estreado em maio de 2018, o solo do criador português radicado no Rio de Janeiro já passou por vários palcos, chegando agora ao Porto com entrada livre, enquadrado na programação da iniciativa camarária Cultura em Expansão.

Em entrevista à Lusa, Tiago Cadete assume que a proposta inicial “não sofreu alteração nenhuma”, nem na ordem nem no aumento do número de entrevistados, com o mesmo guião, ainda que o contexto em torno desta récita possa ter mudado.

“Nas entrevistas que faço a portugueses, esperava que falassem bastante do Brasil, e fala-se, mas é muito mais sobre Portugal, na verdade. [...] Há muito uma projecção do migrante a olhar para o seu país”, explica.

Nas entrevistas, já surgiam “resquícios do ‘golpe’”, uma referência à destituição da anterior presidente Dilma Rousseff, e a “condição de migrante” acaba por verter parar a conversa não só o país de onde se sai “como as expectativas no novo país”.

“No Brasil, todos os dias acontecem três ou quatro coisas muito importantes que mudam o país, e o espectáculo toca esse lugar político do país, mas também de Portugal, como as razões para os migrantes terem saído”, reflecte.

Apesar de surgirem vários tipos de migração e inúmeros motivos para a saída de um país, Tiago Cadete vê “um corpo comum a estes corpos migrantes”, e essas semelhanças, bem como “a memória” e a relação que estabeleceu com os entrevistados, estão patentes na peça.

A passagem do tempo acaba por influir nas novas récitas, uma vez que, hoje, “pelo menos quatro dos entrevistados” já tenham saído do Rio de Janeiro e voltado a Portugal.

“Interessa-me mais ver como o trabalho atua no tempo e dá outros olhares, a mim e ao público, do que estar a actualizar este trabalho com mais entrevistas”, conclui.

A morar no Rio de Janeiro há seis anos, onde fez um mestrado em dança e onde agora faz um doutoramento em artes visuais, Tiago Cadete entrevistou uma série de portugueses residentes no Brasil, no sentido de procurar uma matriz identitária.

A partir de uma série de entrevistas gravadas, que vai ouvindo ao longo do espectáculo e transmitindo o que recebe aos espetadores, Tiago Cadete vai construindo uma ‘performance’ onde além dele existe apenas uma mesa e muitos ovos, numa alusão à lenda do “ovo de Colombo”.

De todas as entrevistas que fez, Tiago Cadete apercebeu-se de que há três ideias-chave comuns aos portugueses no Brasil: a ideia de que só têm a noção da geografia do Brasil quando lá chegam; a da violência que existe no país e a de que a língua, ao invés do que se pensa, no início, não constitui um fator de proximidade, disse à Lusa, aquando da estreia.

Tiago Cadete nasceu em Faro, em 1983, e vive atualmente entre Lisboa e Rio de Janeiro.

Como ator trabalhou com, entre outros, João Brites e Jorge Silva Melo, responsáveis pelas companhias O Bando e Artistas Unidos, respetivamente.

Criador das peças “Highlight”, “Golden” e “Alla prima”, desde 2009 que trabalha regularmente com Raquel André, com quem criou as peças “No digital”, “Last” e “Turbo_lento”.

A mais recente criação, “Gulliver”, estreou-se há duas semanas na Culturgest, no Dia Mundial do Teatro, e insere-se na parceria do criador com o serviço educativo desta instituição lisboeta.