Prioridades entre trapalhadas
As eleições de 12 de Outubro vão recentrar o mapa político regional
1. A entrada em força no período de férias por excelência tem sido fértil em trapalhadas. Apesar de, na frente económica, os indicadores apontarem para números saudáveis, um desemprego baixo (apesar da precariedade existente) subsiste um conjunto de situações que exige intervenção rápida e certeira.
Durante a semana, o alojamento local no Funchal esteve na ordem do dia, devido à eventual irregularidade detectada em habitações construídas por uma cooperativa, a custos controlados e com uma série de isenções fiscais. Parece evidente que estamos perante um abuso e, muito provavelmente, uma ilegalidade. Esta polémica trouxe à tona um mapa robusto de residências utilizadas como alojamento local. A discussão não é nova, mas assume contornos particularmente graves quando tantos carecem de habitação condigna. Em Lisboa, bairros de traça característica foram literalmente despejados dos seus moradores antigos, para dar lugar ao arrastar incessante de bagagens de turistas em demanda da placa AL.
Ouvi, esta semana, o relato verídico de um casal com filhos que viu a renda aumentar 500 euros para evitar ser expulso. O intuito do senhorio era claro: transformar o apartamento em alojamento local. Caso não conseguissem suportar o novo encargo, aquela família ficaria sem tecto. Não podemos continuar a esvaziar os centros das nossas cidades, arrancando-lhes a alma e expulsando os madeirenses para as periferias. A identidade urbana deve ser preservada, também em nome do turismo. Urge rever os regulamentos municipais que careçam de actualização, garantindo sossego e dignidade aos residentes, em vez de os empurrar para fora dos núcleos urbanos. Que compromissos assumem as candidaturas autárquicas nesta matéria? Um dos maiores desafios políticos dos próximos tempos será encontrar o equilíbrio entre o crescimento turístico e a consequente pressão sobre o território e a problemática da habitação. Ter trabalho e um ordenado, mesmo que acima da média, já não confere o direito a ter uma casa. E isso terá obrigatoriamente consequências na demografia regional a curto prazo.
2. No plano político, com as autárquicas no horizonte, registou-se mais uma desistência nas fileiras do PSD. Em São Vicente, Fernando Góis saiu de cena, invocando os já gastos “motivos pessoais e familiares”, os mesmos que serviram de justificação a José Luís Nunes, no Funchal, para sair de cena. Albuquerque desvaloriza as trocas e baldrocas, até as compensa com lugares na administração, mas a verdade é que tudo isto espelha um processo conduzido de forma amadora desde o princípio. A sua sorte reside no facto de, do outro lado, a oposição não apresentar um cenário mais entusiasmante. Por exemplo, há uma percepção de perda de terreno socialista, cujos dirigentes foram engolidos pela ‘silly season’.
As eleições de 12 de Outubro vão recentrar o mapa político regional. Quem arrecadará mais votos? Quem conquistará mais câmaras? O partido vencedor ganhará novo fôlego para enfrentar os desafios do futuro. Para o PS, relegado para a terceira posição, será o momento da verdade: Cafôfo deixará o partido mais forte e pujante ou mais fragilizado e à beira do coma político? Se não conseguir manter, pelo menos, os três municípios actuais, terá de ir procurar uma nova liderança fora do actual ‘inner circle’. Quem juntará, depois, os cacos?