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Crónicas

As que sabem a um bom vinho, as que passam como água…

Podemos às vezes errar nas escolhas mas no final sabemos que não há como quem nos faz rir e sorrir

A vida leva-nos por caminhos e pessoas que muitas vezes não conseguimos explicar. As que nos fazem bem e as que nos mandam abaixo, as que acrescentam e as que tiram um bocado de nós. São os ciclos naturais nas relações, é por isso que há as que ficam e as que vão embora, as que terminam (honrosamente) o seu papel e os que se transformam em algo que desconhecemos quase como se voltassem a ser estranhos. Por vezes deparamo-nos com atitudes e verdades que não colam com a imagem que gostávamos de ter sobre alguém. Acho que lhe chamamos desilusão. E na fita do tempo é impossível não termos desses momentos em que tudo parece desvanecer, em que somos quase obrigados a voltar ao principio, como se de uma história se tratasse. A nossa história. Alturas em que apostámos todas as fichas e perdemos o jogo, muitas das vezes não por falta de astucia nem por falta de dedicação ou vontade, simplesmente porque não nos encontrávamos no mesmo comprimento de onda. Porque do outro lado ou do nosso as condições eram diferentes, os desejos não eram iguais e a perspectiva sobre o Mundo e o que nos rodeia tinha demasiado caminho para percorrer. Seja amizade ou amor.

Recomeçar é por isso uma fatalidade que nos obriga invariavelmente a alimentar o nosso “eu”, a construir a partir do meio e a lutar pelo que queremos e pelo que nos identificamos. E nunca é tarde para isso por muito que possa por vezes parecer o contrário. Somos muito mais força do que imaginamos e sobra pouco tempo para pararmos em alguma circunstancia que nos possa magoar. Recordo-me sempre de uma passagem do filme “A Luz entre Oceanos” em que um personagem diz “Passaste por tantas coisas na vida e estás sempre feliz. Como consegues?”, ao que o outro lhe responde “Só tens de perdoar uma vez . Para sentires rancor , tens de o alimentar o dia todo, todos os dias. Sempre. Tens de te lembrar constantemente das coisas más. Dá demasiado trabalho.” Se é fácil? Não, não é. É difícil, às vezes dói, outras arde por dentro. Mas é um espaço de oportunidade para procurarmos outras soluções, para nos relacionarmos com outras pessoas e encontrarmos aquilo que tanto ansiamos. A magia que há cá dentro e que nos faz sentir bem, o equilíbrio e a serendipidade. O encontro com o inesperado no tempo mais incerto e o valor no que realmente vale a pena.

É por isso tão importante sermos bem resolvidos e deixarmos fechado o que está para trás, encontrarmos em nós as motivações certas e nos outros a harmonia que nos traz boas sensações e nos puxa para os melhores sentimentos. Aproveitarmos cada espacinho de tempo para sermos felizes e transportarmos essa leveza para que os outros se sintam bem. Acrescentarmos e darmos valor sabendo que o segredo está na dicotomia do dar e receber, do saber ceder sem deixarmos de cumprir o que nos dá um brilhozinho nos olhos, saber ouvir mas também falar no tempo certo, entrar no ritmo e seguir o compasso do que nos é mais importante. Afinal de contas é isso que procuramos ter à nossa volta, pessoas que sabem como um bom vinho, intenso, vibrante e apaixonante que vai ficando melhor à medida que o tempo voa mas que também passam como água, que nos torna leves e nos faz bem. Podemos às vezes errar nas escolhas mas no final sabemos que não há como quem nos faz rir e sorrir, nos deixa a sonhar e nos traz a vontade de sermos todos os dias melhores para retribuirmos essa sorte. O resto o tempo leva. Sugiro que vejam o filme “My Mom, Jayne”.

Frases Soltas:

Já muito foi dito sobre Diogo Jota e o irmão André. É inexplicável este destino que nos rouba e nos faz questionar muitas vezes sobre aquilo em que acreditamos. Trágico e verdadeiramente triste. Sobra o bom, as memórias e todas as homenagens feitas. Descansem em paz.

No espaço de uma semana vi na rua duas atitudes que me deixam com mais força para acreditar na bondade humana. E eu gosto de acreditar. Uma delas foi uma condutora de um autocarro da carris que me apitou insistentemente e parou o autocarro, saindo do mesmo para me avisar que levava a minha mochila aberta. A outra em frente a minha casa, deixaram um embrulho no para-brisas de um carro com uma mensagem a dizer que a matrícula do mesmo tinha caído e que o tinham guardado e embrulhado. Bons sinais, bem precisamos deles.