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Fact Check Madeira

Será que o candidato do Chega à CMF recebeu 5 mil euros de financiamento ilegal?

Luís Filipe Santos de bandeira do PSD na mão, acompanhado do actual secretário das Finanças, numa acção de campanha em Março de 2024. FOTO FACEBOOK PSD DO IMACULADO
Luís Filipe Santos de bandeira do PSD na mão, acompanhado do actual secretário das Finanças, numa acção de campanha em Março de 2024. FOTO FACEBOOK PSD DO IMACULADO

O anúncio de que Luís Filipe Santos será o cabeça-de-lista do Chega à Câmara Municipal do Funchal nas próximas eleições autárquicas suscitou dezenas de comentários nas redes sociais e no site do DIÁRIO. Há vários cidadãos que manifestam compreensão ou apoio à opção seguida pelo ex-autarca social-democrata do Imaculado Coração de Maria e até há poucos dias militante do PSD. Mas alguns levantam questões sobre a sua conduta ética e até legal. Sobre este último aspecto, um dos comentadores garante que este candidato esteve ligado a um caso de alegado financiamento político ilegal ao CDS-Madeira. “Recebeu 5 mil euros de financiamento ilegal na conta pessoal e agora aparece no grupo dos rouba-malas”, escreve André Andrade. Será que foi mesmo assim?

Em Abril de 2021 foi noticiado que dois anos antes, durante a campanha para as eleições legislativas regionais da Madeira, o CDS-PP/Madeira teria recebido cerca de 30 mil euros provenientes do empresário César do Paço, conhecido por ter financiado o Chega e por ter ocupado cargos honorários como cônsul da República da Guiné-Bissau e de São Tomé e Príncipe nos Estados Unidos. A informação foi revelada numa investigação jornalística da SIC, em colaboração com o jornal ‘Expresso’, através da reportagem ‘A Grande Ilusão’, emitida em Abril de 2021. Segundo os dados divulgados, seis dirigentes ou candidatos do CDS/Madeira terão recebido cada um cerca de 5 mil euros, depositados directamente nas suas contas bancárias pessoais. Os beneficiários foram o então líder do CDS/Madeira Rui Barreto, o irmão Vítor Barreto, Gonçalo Pimenta, Gonçalo Nuno Santos (pai), Gonçalo Nuno Santos (filho) e Luís Filipe Santos (filho e irmão dos dois últimos). Este último é o actual candidato do Chega à Câmara Municipal do Funchal.

Os montantes foram transferidos em Agosto de 2019, poucos dias antes das eleições regionais de 22 de Setembro. A transferência em seis parcelas serviria alegadamente para contornar os limites impostos por lei aos financiamentos partidários.

Em Abril de 2021, o caso foi divulgado pela SIC, que revelou que Rui Barreto omitira o valor recebido na declaração de rendimentos e património que entregou no Tribunal Constitucional. A situação suscitou duas denúncias no Ministério Público: uma assinada pelo então líder parlamentar do PS, José Miguel Iglésias, a apontar para indícios de vários crimes; e outra por um cidadão lisboeta, por suspeita de pagamento antecipado de favores. Nessa altura, a Procuradoria-Geral da República confirmou a abertura de um inquérito no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Funchal para apurar eventuais indícios de financiamento político ilegal, branqueamento de capitais ou outras infracções conexas. O processo visava investigar as circunstâncias das transferências e eventuais responsabilidades penais dos envolvidos.

Os contornos seguintes do caso foram revelados numa reportagem publicada pelo DIÁRIO em 2 de Outubro do ano passado. Quatro dos seis beneficiários das transferências (Luís Filipe Santos, Gonçalo Nuno Santos (pai), Vítor Barreto e Gonçalo Pimenta) foram constituídos arguidos e interrogados no MP. A sua estratégia de defesa conjunta foi preparada pelo advogado e antigo deputado do PSD Guilherme Silva. Os arguidos relataram que quando o CDS estava a tentar obter um crédito bancário para financiar a campanha, César do Paço acedeu a transferir os 30 mil euros em fracções para as contas dos seis envolvidos, como empréstimo pessoal, sendo que estes entregariam depois o dinheiro ao partido na forma de donativo ou empréstimo. No entanto, como o crédito bancário foi aprovado, tal “fundo de contingência” não chegou a ser transferido para a conta partidária, tendo permanecido sempre na esfera dos 6 cidadãos, até à sua devolução a César do Paço.

O procurador Miguel Silva considerou esta explicação plausível e concluiu pela “inexistência de crime”, pelo que a 11 de Julho de 2024 ordenou o arquivamento do inquérito.

O histórico deste caso revela que efectivamente Luís Filipe Santos recebeu na sua conta pessoal cerca de 5 mil euros que se destinariam a financiar o CDS. No entanto, a investigação do Ministério Público concluiu pela ausência de crime na sua conduta e que o dinheiro nunca chegou ao partido, tendo sido devolvido à origem. Há outra imprecisão na forma como esta situação foi apresentada publicamente e tem a ver com uma eventual ligação partidária ao CDS. Apesar de ter sido mencionado como “dirigente” ou “candidato” do CDS, Luís Filipe Santos manteve-se sempre como militante do PSD. Aliás, esteve presente nas reuniões partidárias de preparação das eleições regionais do corrente ano.

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