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A cultura da demonização: um veneno que mina a democracia na Madeira

Quem está no poder tem maior responsabilidade e devia dar o exemplo do respeito e da inclusão

No dia da Região falei da demonização, de um modo de fazer política comum na nossa terra, que através de propaganda e de narrativas falsas, tem promovido a ideia de que os adversários políticos, ou quem pensa ou é diferente, é uma ameaça. Este fenómeno, longe de ser novo, ganhou contornos mais agressivos nos últimos tempos. Basta ver as ofensas graves e os insultos do Secretário Regional do Turismo, Ambiente e Cultura, Eduardo Jesus, na Assembleia Regional.

Na política regional, tornou-se prática corrente procurar descredibilizar quem é da oposição, não pelas suas ideias, mas pela simples condição de pensar e propor diferente. O adversário é rotulado de “inimigo da Madeira”, “traidor da Autonomia” ou, ironicamente, de estar “ao serviço de Lisboa”. Uma acusação feita por quem, com frequência, não usa a Autonomia e prefere estar de mão estendida a Lisboa, ou por quem, quando não consegue resolver os problemas, atribui as culpas a Lisboa.

Na Madeira, a demonização sistemática da oposição política, promovida por quem governa há décadas, criou um ambiente de intolerância onde qualquer voz crítica é tratada como inimiga. Este clima de desconfiança e divisão, alimentado por narrativas de medo e confronto, abriu caminho a outras formas de rejeição, incluindo uma aversão crescente aos imigrantes e atitudes xenófobas. Mas não só, estende-se aos nossos compatriotas regressados da Venezuela ou aos portugueses que nascidos no continente, escolheram a Madeira para ser a sua terra.

Quando se banaliza o ataque ao “outro” - seja ele um adversário político ou alguém que vem de fora - normaliza-se um discurso de exclusão, que depois é apropriado pelas pessoas, o que enfraquece a democracia, mina a coesão social e desvia a atenção dos verdadeiros problemas que afetam a nossa vida. Quem está no poder tem maior responsabilidade e devia dar o exemplo do respeito e da inclusão, em vez de fomentar a exclusão e o insulto, que depois se espalha na sociedade. Infelizmente, a demonização alastrou-se e expressa-se em atitudes xenófobas e racistas, cada vez mais recorrentes à nossa volta, na vizinhança, no local de trabalho ou no espaço público.

É preciso dizer que os imigrantes contribuem, e muito, para a nossa economia e para a sustentabilidade da Segurança Social. Trabalham em sectores onde há falta de mão de obra, pagam impostos e descontam.

Em 2024, os imigrantes contribuíram com 3,65 mil milhões de euros para a segurança social, recebendo apenas 688 milhões - um saldo positivo de quase 3 mil milhões de euros. Como se comprova, não vivem de subsídios.

A Madeira não precisa de muros. Precisa de pontes. Precisa de pluralismo, abertura e respeito. A identidade madeirense não se constrói com base na exclusão - constrói-se com a riqueza da diversidade, com a força da liberdade e com o exemplo da Autonomia bem exercida, que não teme o confronto de ideias, mas que o valoriza como sinal de maturidade democrática.

Acabe-se com a demonização. Quem ama verdadeiramente a Madeira deve recusar esta política do medo e da divisão, e lutar por uma Região onde todos têm lugar, sejam de onde forem, pensem como pensarem.