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Crónicas

Farto do aeroporto de Lisboa

José Luís Nunes impediu golpada monumental

Para os madeirenses os aeroportos são a sua perdição.

Aqui, é a imprevisível operacionalidade e, em Lisboa, tanto a má qualidade do terminal como o tráfego aéreo em excesso.

Não temos como evitar. Voar português pela TAP, sem voos internacionais a partir do Funchal, obriga a utilizar o aeroporto de Lisboa. Como destino final ou como passagem para o estrangeiro. Raramente posso ir pelo Porto ou seguir numa “low-cost” directo do Funchal. O que é preferível. É o malfadado “hub” em Lisboa. Coisa boa para a capital mas nefasta para a Madeira.

Assim, fico reduzido à escala em Lisboa, a pior alternativa do mundo. Um caminho não civilizado. Um abuso operacional que retira qualquer mínimo de qualidade e conforto ao uso daquele aeroporto. Quero protestar.

Se fosse concorrencial com outro aeroporto, perdia sem dúvida. Ninguém optaria por ele.

ANA e TAP repartem as responsabilidades. Nunca se sabe bem de quem é a culpa. Se de uma ou de outra. Mas não serve de desculpa a ninguém. O passageiro é igualmente massacrado!

Numa lógica de sobre-lotação do aeroporto o normal seria ter os passageiros o mínimo de tempo no interior do seu espaço. Mas não é para este aeroporto. A sua prática é exactamente a contrária: obrigar ao máximo de tempo de permanência e circulação. Para ser gasto dinheiro nas lojas e serviços de comes e bebes que por lá abundam. Obrigam os passageiros a percorrer toda a área comercial, de um extremo a outro do terminal, na perspectiva de haver uma despesa que aumente a renda do comércio instalado. Exploram cada centímetro quadrado da aerogare. Imaginem ir ao Centro Comercial Colombo e obrigarem a entrar num extremo da superfície comercial e a sair no extremo oposto. Ter de percorrer toda a área comercial desde que lá entrássemos. O passageiro não tem liberdade.

A diferença é que ao centro comercial vai quem quer, mas ao aeroporto de Lisboa já não há como evitar. E isto é abuso inqualificável sobre quem não se pode defender.

Ser empresa francesa não dá posição dominante a ninguém. Todos se queixam das dificuldades do aeroporto de Lisboa, mas ninguém trata de esvaziar de passageiros as instalações. Enquanto o governo nacional promete investimentos todos esperam mais áreas comerciais disponíveis. É esse objectivo de quem explora. Cada obra nova reduz o espaço de passagem ou espera dos passageiros a favor de novas lojas comerciais. Tem dias que não há onde sentar-se.

O Ministro dos Transportes bem pode cantarolar melhorias com novos investimentos quando, poupava muito, se obrigasse a uma gestão mais aeroportuária do que “shopping” comercial. O governo não defende os passageiros. Não fazem ideia do terceiro mundo que ali há.

Grande parte das taxas aeroportuárias tem a ver com investimento comercial e isso é inadmissível. Os investimentos não são para melhorar as condições de uso e permanência dos passageiros. Não são. Apenas pretendem aumentar as áreas de lucro do concessionário.

Isto tudo sem falar no desgastante esforço físico à chegada por ausência de tapetes rolantes, os quais retirariam passageiros das portas das lojas. Aliás, no percurso não-Shengan, até já retiraram tapetes rolantes para ser aumentada a área comercial.

À chegada da Madeira o habitual é nos largarem num extremo do terminal e nos obrigarem a percorrer todos os espaços comerciais até descer para a sala de bagagens. Queria ver se estes franceses teriam a mesma desfaçatez em França. Talvez já tivessem sido censurados na gestão aeroportuária.

Uma curiosidade: quando o voo chega depois das vinte e três horas, estando as lojas já encerradas, poupam-nos “a via sacra” e despejam-nos em porta directa para as bagagens. Como deve ser. Afinal há saída cómoda. Só usada de noite.

Óbvio que os vip’s, políticos e governantes, porque usam salas especiais, não sofrem como o comum dos passageiros. Nem querem saber. Tanto os de cá como os de lá.

E o pior é lembrar que será assim nos próximos 50 anos, período da concessão. Ou que no novo aeroporto de Lisboa, com jeitinho, ainda se vem a pé de Alcochete num monumental espaço comercial. São uns curtos setenta quilómetros de lojas e serviços.

Mas deixem de mentir dizendo ser urgente o investimento na aerogare. O que é necessário é boa gestão. Um mínimo de bom senso. E piedade pelos passageiros.

Odeio franceses “chico-espertos”, para quem o lucro é tudo.

Ainda estou decepcionado com a decisão do governo regional em entregar os aeroportos da Madeira e do Porto Santo a essa incrível associação francesa. Depois de tanto lutarmos, eu fui um deles, pela sua regionalização o governo de Alberto João Jardim ofereceu de mão beijada essa nossa fundamental infraestrutura. Desconheço a que tortura Alberto João foi sujeito para ceder tão facilmente. Ou terá sido mais?

Afinal, aqueles que se intitulavam de duros negociadores não passavam de entes frágeis que sempre fugiram à explicação e ao contraditório. Juntem os aeroportos à lei eleitoral e à dívida e percebem a fraqueza das lideranças.

Estamos de tal maneira que os franceses primeiro anunciam nos jornais a escolha do director dos aeroportos e depois informam o governo regional. Era justo conhecermos o preço desta humilhação aérea. Bem repreendida publicamente por Miguel Albuquerque.

Mesmo tendo sido cedida por cinquenta anos a concessão aeroportuária, o governo regional não deixou de ter jurisdição política sobre os aeroportos. Há uma tutela nos transportes aéreos. Era bom que alguém defendesse os passageiros. Como intercedesse no aeroporto de Lisboa para, pelo menos, não nos obrigarem a ir às compras.

Este é um tema a que voltarei. Tem demasiadas fragilidades para ser deixado unicamente ao “descuido” de qualquer concessionária.

José Luís Nunes

Com a sua coragem e desprendimento pelo tacho que lhe propuseram, impediu uma das maiores “golpadas” da nossa jovem democracia partidária. Com repercussões infinitas no Funchal. O que estava a ser preparado não era sério. Valeu a honestidade intelectual e o carácter do dr. José Luís Nunes e a sagacidade inquebrável de Miguel Albuquerque. Aos dois, em nome da Cidade, o meu obrigado! E vou votar neste presidente da Assembleia Municipal. Como no da Câmara.

Que sirva de lição no PSD!