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Fact Check Madeira

Será que o principal hospital da Madeira “polui mas salva vidas”?

Imagem partilhada por José Pisa no Facebook
Imagem partilhada por José Pisa no Facebook

Anteontem, vários cidadãos publicaram no Facebook fotografias e vídeos que mostravam uma coluna de fumo negro a sair pela chaminé do Hospital Dr. Nélio Mendonça. Seguiram-se dezenas de comentários sobre o assunto, avançando-se hipóteses sobre a origem do problema, umas sérias e outras carregadas de humor negro. Mas muitos manifestaram preocupação por “o nosso próprio hospital” estar “a poluir o ambiente”. “Isso é poluição bem pesada”, garantiu uma cidadã. Mas outros relativizaram o caso, recordando que “sempre foi assim”. “Querem ver que agora também querem fechar o hospital porque as caldeiras estão poluindo o ambiente?!”, escreveu uma cidadã da Camacha. Será que, como disse o cidadão Duarte Sá, o hospital vai “poluindo mas entretanto vai salvando vidas”?

A atender pelas características dos gases expelidos e pelos episódios do passado, tudo indica que a origem do fumo está na deficiente queima dos derivados de petróleo que alimentam as caldeiras da central térmica desta infraestrutura de saúde pública. Esta possibilidade foi apontada por vários cidadãos no Facebook, sendo um deles Paulo Melich Farinha. Este madeirense baseou a sua convicção na experiência profissional com as caldeiras da antiga Fábrica de Massas Prazeres. Em seu entender, caldeiras já com alguns anos, como as do Hospital Dr. Nélio Mendonça, carecem de intervenção e manutenção permanentes.

Não é a primeira vez que se verifica a emissão de fumo negro na principal unidade hospitalar da Madeira. Agora, na sequência das denúncias no Facebook, o DIÁRIO procurou saber a origem e as consequências do problema. Nesse sentido, o Serviço Regional de Saúde (SESARAM) esclareceu que o Hospital Dr. Nélio Mendonça dispõe de três caldeiras que funcionam 24 horas por dia, durante todo o ano. Estes equipamentos (alimentados por derivados de petróleo) são essenciais para a produção de vapor utilizado em vários serviços hospitalares, nomeadamente aquecimento de água quente sanitária, esterilização de materiais, preparação de refeições na cozinha hospitalar e aquecimento central.

O SESARAM admite que durante o funcionamento normal destas caldeiras, especialmente em fases de arranque ou quando as mesmas estão frias, “pode ocorrer alguma emissão momentânea de fumo”. A empresa pública que gere os hospitais e centros de saúde assume que “recentemente registou-se uma anomalia pontual na entrada de ar do queimador de uma das caldeiras, o que originou a emissão de fumo observada” e captada nas imagens partilhadas no Facebook. O SESARAM garante que “a situação foi prontamente identificada e resolvida pelas equipas técnicas, não havendo neste momento qualquer irregularidade no funcionamento dos equipamentos”.

Para o investigador Hélder Spínola, a emissão de fumo pelo hospital “é uma situação preocupante, tanto pela poluição atmosférica que provoca como pelo péssimo exemplo dado à sociedade”, já que este tipo de emissões atmosféricas estão associadas a poluentes que, para além do ambiente, afectam a saúde de quem os inala. “Aquele tipo de fumo está habitualmente associado à emissão de grandes quantidades de partículas finas, um dos poluentes que causa mais morbilidade e mortalidade no país, na Europa e no mundo”, explicou o especialista.

Hélder Spínola considera que, neste caso, a solução passa por alterar a fonte de energia, deixando de utilizar combustíveis fósseis tão poluentes e utilizando outros com emissões mais baixas. Preferencialmente, deveriam ser aproveitadas energias renováveis, nomeadamente com a instalação de painéis solares. Sendo necessário complementar com outras fontes de energia não renováveis, o SESARAM poderia optar pelo gás ou a electricidade. Na prática, deve adoptar uma tecnologia mais limpa com aproveitamento de energias renováveis.

A conclusão é que o funcionamento do Hospital Dr. Nélio Mendonça causa efectivamente alguma poluição atmosférica e, nesse aspecto, contribui para a morbilidade e a mortalidade. Mas faz isto no desenvolvimento da sua actividade primordial, que é fomentar a saúde das pessoas e salvar vidas, sendo que o balanço entre consequências negativas e positivas pende esmagadoramente a favor destas últimas.

O Hospital Central da Madeira vai “poluindo mas entretanto vai salvando vidas” - Comentário de Duarte Sá no Facebook