Contra o ruído, a lucidez…

Num tempo de esquecimento fácil e revisionismo subtil, lembrar que o valor da liberdade tornou-se um dever moral e cívico. Há um país que grita. E há outro que pensa.

Vivemos entre esses dois “Portugais” — o do espetáculo e o do silêncio. O primeiro domina os ecrãs, as timelines, os microfones. É o Portugal do escândalo fácil, da indignação fabricada, da raiva pronta a usar. Um país que não procura a verdade, mas a sua versão mais vendável.

São os mestres da distorção. Dão estatísticas fora de contexto como quem distribui veneno com rótulo de vitamina. A cada dia, um novo inimigo: ora é um professor que ousou pensar, ora um artista que se recusou a alinhar, ora um cidadão que hesitou antes de berrar. Porque pensar — isso sim, é perigoso. E eles sabem.

Esses que se dizem corajosos nunca arriscaram nada. Vestem-se de vítimas enquanto alimentam fogueiras. São valentes atrás de câmaras e teclados, mas tremem diante de argumentos. A sua força vem do ruído, nunca da razão.

Mas há outro país e é este país em que eu acredito. Um país que não aparece nas manchetes. Que acorda cedo, trabalha, educa os filhos, lê quando pode. Que hesita, que reflete, que se recusa a escolher entre os extremos impostos. Esse Portugal não precisa gritar — porque sabe o preço da lucidez.

Esse Portugal vê. E está farto.

Farto da manipulação, do histerismo, do circo mediático. Farto de ver a dúvida ser tratada como traição, a moderação como fraqueza, a empatia como ingenuidade. Farto de ser arrastado para trincheiras que não escolheu.

Esse país resiste.

Com cansaço, sim. Com nojo, às vezes. Mas também com firmeza. Porque sabe que o ruído passa. Como passa uma febre, como passa um vendaval. E o que fica, no fim, é aquilo que foi construído com verdade.

O barulho cansa. O silêncio constrói.

E é desse silêncio atento que nascerá, mais uma vez, o que realmente importa.

Tenho dito!

José Augusto de Sousa Martins