São recorrentes os problemas com o relvado do Parque de Santa Catarina após a realização de espectáculos?
Ontem, Raimundo Quintal teceu algumas críticas à realização de festivais no Parque de Santa Catarina. A notícia do DIÁRIO sobre essa posição assumida pelo geógrafo e antigo vereador com o pelouro do ambiente na Câmara Municipal do Funchal gerou centenas de comentários, havendo quem apoiasse a denúncia feita, mas não faltando, também, quem fizesse questão de tornar pública uma opinião contrária.
Um dos leitores/internautas que se juntou a Raimundo Quintal nas críticas foi João Rodrigues. Além de lamentar a autorização para a realização de eventos deste género naquele espaço, notou que a degradação do relvado é uma consequência recorrente da pressão humana desencadeada por este tipo de iniciativas.
Mas será que esta é a primeira vez que o problema é notado, como apontou o leitor? É isso que nos propomos a verificar.
Terminou no passado sábado mais uma edição do Summer Opening, festival de Verão que vai já na sua 11.ª edição e que tem tido sempre o Parque de Santa Catarina como palco. Nos três dias do evento, contaram-se mais de 15 mil pessoas a passar por aquele que é um dos espaços verdes mais emblemáticos da cidade do Funchal.
No fim-de-semana anterior, entre 10 e 12 de Julho, o Funchal Jazz Festival levou, também, milhares de pessoas até àquele Parque para assistirem aos vários concertos que ali tiveram lugar.
Com a realização destes eventos, o relvado central do Parque de Santa Catarina que pintava de verde aquele que foi, noutro tempo, o Cemitério de Nossa Senhora das Angústias, antes do mesmo ser transferido, entre 1939 e 1944, para São Martinho, ganhou um tom amarelo-acastanhado, dando sinal de que a relva que ali existia está moribunda.
Carolina Rodrigues , 20 Julho 2025 - 17:09
O cenário que muitos consideram “desolador” foi, ontem, enfatizado por Raimundo Quintal. O geógrafo e antigo vereador com o pelouro do Ambiente na Câmara Municipal do Funchal usou as redes sociais para lamentar o estado em que se encontra o Parque após a realização do Summer Opening e deixou um repto para que o Funchal seja “tratado com sensibilidade e conhecimento científico”. No seu entender, o município “não pode ser governado, sob a influência de muitos decibéis e de pressões populistas”.
A notícia do DIÁRIO que dava conta da crítica feita por Raimundo Quintal depressa mereceu centenas de comentários, uns a favor, outros contra. Um deles, o de João Rodrigues, apontava que este problema era recorrente, dizendo mesmo que “todos os anos os festivais dão cabo da relva do Parque de Santa Catarina”. É isso que procuramos aqui verificar.
Para percebermos se este problema surge, agora, pela primeira vez, após a realização de festivais de Verão naquele que é o maior espaço verde do centro histórico do Funchal, com 35.200 m², recorremos ao Arquivo do DIÁRIO, de modo a indagar se esse problema foi notícia no passado.
Em Julho do ano passado, por exemplo, a destruição do relvado daquele jardim mereceu várias atenções nas páginas deste jornal, sobretudo pela troca de acusações que o tema gerou entre o Executivo e a oposição em algumas reuniões de Câmara.
Na altura, os vereadores da coligação Confiança, além da destruição da relva, apontaram a “destruição parcial dos sistemas de rega, como também o vandalismo de equipamentos colectivos como bancos, papeleiras e guardas”. Cláudia Dias Ferreira dava conta, aos jornalistas, de que "o crescente número de eventos, todas as semanas, naquele espaço, provoca uma pressão para a qual o relvado não está preparado".
Então, Cristina Pedra dava conta de que a relva teria de ser replantada, com a presidente da Câmara do Funchal a reconhecer o impacto que as várias iniciativas realizadas naquele espaço verde citadino tinham desencadeado.
Já este ano, no passado mês de Maio, antes mesmo da realização de alguns dos grandes eventos que já tiveram lugar naquele espaço, Nádia Coelho, vereadora com o pelouro dos espaços verdes, esclarecia, aos microfones da Antena 1 Madeira que o coberto vegetal que ali existe não se trata de relva, mas sim de herbáceas que originam uma espécie de prado. Com a sobrecarga e ausência de rega no decorrer dos eventos, adiantava a vereadora que acontece a “degradação da parte foliar destas herbáceas”, mantendo-se viva a parte radicular (raiz). Com o retomar das regas, o manto verde deverá recuperar a sua vitalidade, apontava.
Então, aquela responsável alertava para a necessidade de se repensar a utilização dada àquele parque no futuro, apontando a existência de outros recintos para a realização de festivais como os que tiveram lugar nos últimos dias. “Sendo um espaço nobre, acho que deve ser dedicado só a alguns tipos de eventos”, devendo essa situação ser devidamente acautelada no futuro.
O DIÁRIO procurou saber, esta manhã, junto da Câmara Municipal do Funchal se as organizações dos eventos que se realizam no Parque de Santa Catarina têm algum 'cadernos de encargos' a cumprir no que toca à manutenção dos espaços verdes após o terminus da iniciativa.
Nesse sentido, a autarquia fez saber que “o Departamento de Espaços Verdes e Ação Climática, mormente via Divisão de Jardins e Espaços Verdes Urbanos, emite um parecer com uma série de salvaguardas e regras a cumprir, que estão relacionadas com a preservação da relva e todo o espaço envolvente, conciliando-se com o Regulamento de Parques, Jardins e Espaços Verdes que deverá ser cumprido na íntegra. Nesse mesmo parecer, este serviço reforça que todos os prejuízos que advierem desse evento, os custos serão incutidos à organização. É ainda proposta uma caução no valor de 2.500 euros, legitimado através do n.º3 do Artigo 7, Capítulo II do Regulamento de Espaços Verdes, Parques e Jardins com o nº 461/2018 de 4 de Julho de 2018.
No imediato, a Câmara, através da mesma Divisão, “vai proceder ao plano de recuperação do relvado que habitualmente executa após os eventos, através da sua equipa de jardinagem, que passa maioritariamente por regas”.
Quisemos saber, igualmente, que custos estão estimados anualmente para a manutenção daquele jardim citadino, sendo que a autarquia apurou uma “estimativa de custo de manutenção (mão-de-obra operacional, material de desgaste e consumíveis) ao nível do relvado (aproximadamente 5.100 m2) de cerca de 40.000 euros por ano. Para o restante parque (30.900 m2) a estimativa é cerca de 243.000 euros por ano. Nos valores apresentados não está contemplada a água de rega que provém da Levada dos Piornais, sendo aproximadamente cerca de 9.400 euros de água por ano”, lemos a informação disponibilizada ao DIÁRIO.
Até ao final do ano, o Parque de Santa Catarina deverá servir, ainda, de palco para alguns eventos, nomeadamente o Summer Fest (28 e 29 de Agosto), o Meo Sons do Mar (5 e 6 de Setembro) e concerto de final de ano.
Tendo em conta o exposto, à parte o tipo de 'relvado' que existe no Parque de Santa Catarina, podemos constatar que o problema apontado por Raimundo Quintal e corroborado pelo comentário do leito do DIÁRIO não é novo, tendo já sido levantado em anos anteriores, nomeadamente no ano passado. Consideramos, por isso, verdadeira a afirmação de João Rodrigues.