SIGA - o serviço exemplar... de deixar as pessoas penduradas ao telefone

Hoje tive o privilégio de experimentar, em primeira mão, o tão afamado serviço de transporte adaptado SIGA, aquele que se gaba nos cartazes espalhados pela ilha de ser um exemplo de inclusão e apoio às pessoas com mobilidade reduzida.

Spoiler: é tudo marketing.

No presente dia, e com a melhor das intenções, liguei para o número 291 145 180, o contacto do famoso SIGA, com uma dúvida simples: como posso marcar transporte para o meu sogro, que é cadeirante, entre a paragem C116 no Caniço e a Câmara Municipal de Santa Cruz?

Tentei primeiro online, claro. Mas o site do SIGA parece ter sido desenhado para afastar quem mais precisa dele. Vai-se a ver, até deve ser intencional.

Após cerca de 15 minutos de espera telefónica, finalmente alguém me atende. Explico calmamente a situação. A resposta? “Só pode marcar online.” Ora, brilhante. Era isso mesmo que eu estava a dizer que não conseguia fazer. Peço ajuda. Não me pedem nome, dados, nada. Só silêncio. Fico em espera.

Minutos depois, lembram-se de perguntar o nome do meu sogro, talvez para parecer que iam realmente ajudar. Engano meu. Volto para a música de espera. Finalmente, uma nova colaboradora. Explico tudo outra vez. O que recebo ao fim de 40 minutos de chamada? Um sonoro “não conseguimos ajudar”. A cereja no topo do bolo: sugerem que ligue para os CAM, como se o problema fosse meu por ter tido o atrevimento de ligar para o número indicado no site.

E aqui entra o detalhe mais absurdo: o transporte nem sequer é feito por um autocarro, é uma carrinha adaptada, o que seria ótimo, não fosse o facto de o sistema de marcações online só aceitar pedidos que coincidam com os horários dos autocarros! Um verdadeiro exemplo de lógica administrativa.

Ou seja, temos um serviço que:

• Publicita inclusão, mas não responde a necessidades básicas;

• Orgulha-se de ajudar, mas não forma os seus operadores para isso;

• Diz que é adaptado, mas adapta-se melhor à burocracia do que às pessoas.

Se o meu sogro quer apenas deslocar-se entre duas localidades com dignidade, parece que o verdadeiro obstáculo não é a sua cadeira de rodas. É o SIGA.

SIGA assim, e ninguém vai querer usar.

Cláudia Mendonça