Tarifas
O assunto do momento parece ser as tarifas. Se formos à origem da palavra, verificamos que vem do árabe “ta’rif”, (“definição”, “explicação”), através do catalão e do castelhano. É por definição uma cobrança facultativa, a ser paga em dinheiro, em decorrência da utilização de serviços públicos não essenciais. As famosas tarifas de Trump são, mais, uma espécie de “taxa”, embora as taxas sejam obrigatórias e as tarifas apenas devidas quando é prestado um serviço.
Trump ameaça, todos os países, de aplicar tarifas às importações que poderão ir, nalguns casos, até 50%. Em retaliação, a União Europeia e diversos outros países, já declararam, com Ursula von der Leyen à cabeça, que irão corresponder com contramedidas recíprocas reforçando a vontade de “proteger os seus produtores e consumidores”.
Sendo os EUA o quarto maior parceiro comercial de Portugal, a situação pode tornar-se séria. Entre os sectores mais afectados estarão: combustíveis minerais e óleos de petróleo, máquinas e equipamentos industriais, móveis, corktagem (cortiça), produtos do sector agroalimentar (azeite, vinhos), medicamentos (34% das exportações portuguesas são para os EUA), turismo e viagens internacionais e, por mais estranho que pareça, armas e munições (60 milhões de euros em 2024).
Diante das tarifas norte-americanas, empresas e governos podem adotar um conjunto de acções coordenadas, para preservar a competitividade das suas exportações, que poderão ser diálogo bilateral, intensificação do “lobby” comercial, sobretaxas ou suspensão de acordos bilaterais, revisão da cadeia de suprimentos (procurando fornecedores alternativos), Investimento em I&D (para criar produtos com maior valor acrescentado), diversificar mercados (África, Sudoeste Asiático, América Latina), tentando reduzir a dependência dos EUA.
Se as negociações em curso não atingirem o fim desejado, Portugal poderá elaborar programas de exportação promovidos por AICEP (Associação Internacional das Comunicações de Expressão Portuguesa) e câmaras de comércio internacionais; promover feiras virtuais e missões empresariais híbridas; adoptar padrões ESG (Environmental, Social and Governance) para atrair investidores e compradores globais.
Mas, melhor do que tudo isso, era alguém explicar ao senhor Trump que as medidas que preconiza irão prejudicar muito…os cidadãos norte-americanos. A imposição de tarifas eleva o preço interno dos bens importados, reduzindo o poder de compra dos consumidores americanos.
Embora o governo arrecade mais receita tarifária e os produtores domésticos ganhem algum mercado (no curto prazo), a economia sofre perdas líquidas de bem-estar social - “deadweight loss”- redução da eficiência económica que ocorre quando os impostos distorcem a actividade do mercado, levando a uma diminuição do bem-estar económico geral. Como os produtos importados ficam mais caros, as empresas que dependem de insumos (matérias-primas) importados repassam esse custo ao consumidor.
Essa ineficiência surge quando consumidores deixam de adquirir produtos cujo valor excede o custo de produção internacional e quando a produção menos eficiente local substitui importações mais baratas.
Além de que o anúncio de tarifas pode abalar a confiança dos investidores internacionais, levando à venda de títulos do Tesouro americano e ao aumento dos “yields” (taxas de juros). Entretanto, o dólar já regista desvalorização frente a um conjunto de moedas principais (euro, iene, franco suíço), desde o anúncio das tarifas.
No médio e longo prazo, o proteccionismo poderá reduzir o incentivo das empresas domésticas à inovação, ao avanço tecnológico e ao aumento da produtividade. Com menor concorrência, empresas protegidas tendem a depender de tarifas, em vez de melhorar processos e produtos, comprometendo o crescimento económico sustentável.
O risco de guerra comercial aumenta a incerteza nos mercados globais, desencadeando volatilidade em cadeias de suprimento e elevando custos de adaptação para empresas que dependem de comércio internacional. Não é benéfico para ninguém.