O medo que se esconde
Há medo no nosso País?
Não nos referimos ao medo de escorregarmos, de cairmos e de nos aleijarmos em qualquer parte do nosso corpo. Esse sempre existiu, existe e continuará a existir.
Também não é daquele medo de investirmos, de corrermos riscos que nos podem trazer amarguras, prejudicar a nossa vida nos seus mais variados aspetos. Este, inclusive, é um medo saudável, legítimo, conveniente que podemos e devemos ter.
O medo a que nos referimos é o medo - do qual cada vez mais cidadãos têm - de falar, de opinar, de decidir, de” deitar cá para fora” muitas coisas que veem, sentem e ouvem e que lhes corrói lá por dentro”.
Esse medo que se alastra pela sociedade, como erva daninha, em cada dia que passa.
Hoje não carregamos todos os medos que os nossos antepassados carregaram, mas carregamos alguns deles e outros diferentes, graves como os de antigamente.
Os medos que hoje as populações sentem têm diversas origens, só que não nos é possível referir em pormenor neste curto espaço de publicação por razões obvias.
Mas vamo-nos debruçar sobre um que está na ordem do dia e diz respeito à Lei da Greve. Mais propriamente à alteração dessa Lei que, valha a verdade, é útil e indispensável, em muitas circunstâncias admite-se a sua aplicação, mas quando ela é adulterada dá azo a radicalismos, a situações extremistas, que, muitas vezes, aparenta ter mais a ver com posições político – partidárias do que com o essencial da Lei que visa só e exclusivamente a defesa dos legítimos direitos dos trabalhadores.
Se condenamos um empresário pela sua ganância, pela sua obsessão pela riqueza, sem olhar a meios para atingir fins, não pagando o justo valor a quem trabalha, prejudicando, consequentemente, famílias inteiras, com o seu egoísmo e insensibilidade, também não podemos tolerar sindicalistas radicais que para usufruir – mesmo que tenham a razão do seu lado – mais uma centena de euros mensais e, porventura, uma ou outra promoção ou regalia social qualquer, o faça à custa do sacrifício, do prejuízo, da completa desestabilização da vida de milhares de concidadãos, independentemente de serem homens ou mulheres de meia idade, bebés ou crianças ou pessoas de terceira idade, algumas com saúde precária.
Estas situações graves, humilhantes de total desrespeito pelo seu semelhante, alguns deles também trabalhadores, não podem estar contempladas em nenhuma LEI DA GREVE.
A LEI DA GREVE não é nem pode ser uma LEI SELVAGEM, mas uma LEI HUMANA, que obrigue a defender os direitos e os interesses de quem trabalha, mas nunca à custa do sacrifício, da liberdade e direitos de outros cidadãos, a maioria dos quais também trabalhadores, como o País – ele, igualmente, muitas vezes explorado e humilhado – nos tem mostrado ao longo dos anos.
E nós sabemos os muitos portugueses que sofrem em silêncio, não se manifestando como desejariam por medo das consequências.
Sabemos que, há muita gente que hoje desfruta de uma vida regrada, graças ao seu trabalho honesto de muitos anos, mas também conhecemos os muitos que enriqueceram ou fazem vida de barões à custa da exploração de quem lhes trabalhou ou ainda trabalham, mas seria interessante também saber as reformas principescas ou salários abonados de muitos que em tempos idos se apresentaram e alguns que hoje se apresentam como defensores dos trabalhadores.
Juvenal Pereira