Homenagem ao Dr. Delfim
Dr. Delfim
Rodrigues
05 janeiro 1954 - 16
maio 2025
Nome: Delfim
Pereira Neto Rodrigues
Licenciado em Direito e pós-graduado em Administração Hospitalar, exerceu advocacia entre 1975-78. Depois, abraçou a sua carreira Administrador Hospitalar até ao seu falecimento, tendo sido distinguido (pelo Ministro da Saúde) pelo trabalho desenvolvido entre 1980-84, enquanto Administrador Hospitalar.
Em 1987 foi designado representante da Europa do Sul, no Programa “Hubert Humphrey”, do “Fullbright”, e galardoado pelo Presidente Ronald Reagan, pelas atividades desenvolvidas.
O seu vasto currículo não pode passar em branco, por esse motivo decidi prestar-lhe esta humilde homenagem, referindo-me a este homem que dinamizou e promoveu grandes projetos em saúde, tendo também exercido vários cargos, dos quais destaco os seguintes:
- Vice-presidente da APAH [2019-2022];
- Presidente do Conselho Fiscal e de Disciplina [2022-2025]
- Sócio de Mérito n.º 54;
- Diretor Regional do Norte das Instalações e Equipamentos da Saúde;
- Diretor Geral dos Hospitais;
- Diretor Geral de Saúde;
- Presidente da Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo;
- Presidente do Conselho de Administração de vários hospitais;
- Auditor hospitalar e professor convidado em diversas universidades;
- Autor e coordenador de vários diplomas e peças legislativas de reforma e organização do SNS;
- Membro de comissões interministeriais, tais como: Comissão da Revisão do Ensino Médico em Portugal; Comissão da Luta Contra a SIDA; Comissão da Luta Contra o Cancro; Programa Nacional Materno-Infantil; Comité Científico da Domoscience, da Universidade de Rennes;
- Consultor temporário da Organização Mundial de Saúde;
- Coordenador do Programa Nacional de Implementação das Unidades de Hospitalização Domiciliária nos hospitais do SNS e Presidente do Conselho Fiscal e Disciplina da APAH (funções que exerceu até ao seu falecimento).
Terminou os seus dias lutando pela implementação da Hospitalização Domiciliária, conseguindo implementar em 10 anos, em todos os Hospitais do SNS, os Serviços de Hospitalização Domiciliária, algo que muitos julgavam impossível.
Em 2015, foi distinguido com a medalha grau ouro, por serviços distintos prestados à Saúde e recebeu uma Homenagem profissional, pelo Rotary Club.
Em 2022, foi agraciado como personalidade de saúde.
Não vejo melhor homenagem do que (re)lembrar algumas partes, da sua última entrevista (publicada em SAÚDEONLINE, a 9 de Maio último, conduzida por Silvia Malheiro), que atestam bem o seu empenho e valor acrescentado que produziu na saúde.
“A taxa de mortalidade hospitalar situa-se nos 4,8 a 5%, enquanto a mortalidade esperada em casa é cerca de 3% menos”
Portanto 1,8% versus 5%
“A hospitalização domiciliária em Portugal deu um salto significativo na última década, tratando já mais de 50 mil doentes com ganhos comprovados em qualidade, segurança e eficiência. Em entrevista, Delfim Rodrigues, recentemente nomeado pelo Ministério da Saúde como coordenador nacional da Hospitalização Domiciliária, defende esta resposta como o futuro dos cuidados de saúde, com vantagens clínicas, sociais e económicas.”
Nota: Esta entrevista foi realizada antes de Delfim Rodrigues ter tomado posse como Coordenador Nacional da Hospitalização Domiciliária. Na altura, exercia funções como Coordenador do Programa Nacional de Implementação das Unidades de Hospitalização Domiciliária nos hospitais do SNS.
“Passados cerca de 10 anos, como é que vê a evolução da hospitalização domiciliária em Portugal? Desde aquele projeto-piloto de cinco camas no Garcia de Orta até à realidade atual?
O primeiro projeto arrancou em fevereiro de 2014, no Hospital Senhora da Oliveira, em Guimarães. Depois, no ano seguinte, salvo erro, em novembro, foi no Garcia de Orta. E, subsequentemente, em março de 2018, no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho. Esses três projetos iniciaram-se de forma algo informal, porque ainda não existia um quadro estabelecido, nomeadamente em termos de financiamento.
Oficialmente, o programa teve início a 4 de outubro de 2018, quando 20 hospitais, de forma voluntária, assumiram a sua implementação. Já em 2020, por despacho ministerial, o programa foi alargado a todas as unidades hospitalares, agora denominadas unidades locais de saúde.
Em suma, até 2018, nesse período mais informal, tínhamos tratado cerca de 2200 doentes. Hoje em dia, já ultrapassámos os 50 mil, com critérios de segurança e qualidade bem definidos — nomeadamente, uma redução significativa da taxa de mortalidade nas mesmas categorias clínicas, diminuição da taxa de infeções e um índice de satisfação superior a 98%, de acordo com os inquéritos realizados a doentes e famílias.
Neste momento, temos uma assistência em curso equivalente à de um hospital com 413 camas, diariamente, 24 horas por dia, em todo o território nacional. É como se tivéssemos construído um hospital de dimensão superior ao de Vila Franca de Xira, Beja, Évora ou Barcelos. Muito semelhante ao Hospital Beatriz Ângelo, por exemplo.
Li que houve um aumento de quase 20% nos internamentos domiciliários no último semestre. A que fatores se deve este crescimento?
Fundamentalmente, ao reconhecimento, por parte das unidades hospitalares e dos seus profissionais, dos benefícios desta linha de prestação de cuidados. Por outro lado, há também a necessidade que os hospitais sentiram de libertar camas para outros doentes que delas necessitam.
Por cada doente internado em casa, poupamos, em média, nove dias de internamento hospitalar. Tendo já tratado cerca de 55 mil doentes, poupámos aproximadamente meio milhão de dias de internamento, o que representa um impacto enorme na gestão hospitalar. Ou seja, libertámos camas nos hospitais para situações em que o internamento hospitalar — nomeadamente para os doentes em cuidados de maior severidade, como os de nível 3 e 4 — é absolutamente necessário.
Além disso, há ganhos claros em eficiência económica. O tratamento em casa custa cerca de metade do que custa o tratamento hospitalar. Os recursos poupados podem ser reinvestidos nas próprias unidades.
Internacionalmente, sabe-se que 50% dos doentes com 70 ou mais anos, quando recebem alta, saem com um estado de saúde global mais débil do que quando entraram. Entre os doentes com mais de 85 anos, 20% morrem no primeiro mês após a alta e 45% ficam dependentes para as atividades diárias. Em casa, esses números melhoram significativamente.
Em termos do SNS, trata-se de uma solução custo-efetiva?
Absolutamente. É uma linha de cuidados com uma eficiência económica que ronda os 48 a 50% em custos diretos, e cerca de 40% se incluirmos os custos indiretos.
Na segunda-feira passada (7 de abril), foi publicada uma portaria conjunta do Ministério da Saúde, do Ministério do Trabalho e da Segurança Social e do Ministério das Finanças, que consagra incentivos financeiros, particularmente para os enfermeiros que estão neste programa. Outra portaria já tinha consagrado também incentivos, desde que as unidades se agregassem em torno de centros de gestão intermédia, que foram criados, ou seja, os chamados centros de responsabilidade, que promovem a articulação entre os cuidados hospitalares e os cuidados primários.
Por conseguinte, a integração destes cuidados dentro de percursos clínicos, em que, em cada fase, são chamados os profissionais que podem fazer a diferença — à partida o médico e o enfermeiro de família, mas depois também os médicos das respetivas especialidades, enfermeiros hospitalares, psicólogos, farmacêuticos — gera valor para o doente e para as famílias e torna o sistema mais eficiente.
A tecnologia e a telemonitorização vieram facilitar esse processo?
Sem dúvida. De acordo com a nossa norma de orientação clínica de 20 de dezembro de 2018, da Direção-Geral da Saúde, os doentes devem ter acesso a cuidados durante 24 horas, tal como se estivessem num hospital. Com a telemonitorização dos sinais vitais, conseguimos manter uma vigilância constante — tal como acontece numa unidade de cuidados intermédios. Se houver qualquer desvio, a equipa é alertada e intervém de imediato.
E a aceitação por parte das pessoas também tem aumentado?
Muito. Há um aforismo americano que diz: “There’s no place like home”. E é verdade. Hoje, tomamos decisões a partir de casa — encomendamos comida, fazemos transações bancárias, etc. Ou seja, a nossa casa passou a ser um centro de decisão, pelo que passou a ser também um centro para sermos tratados.
E quais são os próximos desafios?
Densificar a oferta desta linha de prestação de serviços. Olhando para os dados do ICD-10 (índice de classificação internacional de doenças), que tem 4 níveis de severidade, 70% dos doentes internados pertencem aos níveis 1 e 2, que são compatíveis com hospitalização domiciliária. Os doentes nos níveis 3 e 4 representam os restantes 30%. Por conseguinte, apenas cerca de 10 a 15% dos doentes internados, no total, não reúnem condições para serem hospitalizados em casa. Anualmente, no SNS, internamos 1 milhão de doentes, o que significa que, tendencialmente e a longo prazo (8 a 10 anos), poderíamos internar em casa cerca de 800 mil a 900 mil doentes. Naturalmente, com todas as vantagens clínicas, sociais e económicas que referi. Portanto, temos de trabalhar no médio prazo para evoluir até ao tratamento de cerca de 100 mil doentes, e, a longo prazo, para o tratamento de 800 mil a 900 mil doentes em casa.”
BEM HAJA, DR. DELFIM RODRIGUES!
O seu inestimável contributo para a Saúde terá certamente percursores e continuadores que o manterão “vivo” no futuro do SNS e naturalmente do SRS da RAM.