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Casa roubada

Confesso que às vezes não sei muito bem o que pensar… Será falta de preparação, ignorância, consequência de vistas curtas ou um brilhante exercício maquiavélico de criação de ruído para que não se discuta o essencial.

Sou dos que mais se engana e se deixa levar, centrando muitas vezes o olhar naquilo que efectivamente não é o que mais importa. Mas como me pedem este exercício de reflexão, necessariamente curto à conta do parco número de caracteres que me concedem, espero que me desculpem; não posso estar sempre a carregar no mesmo!

É evidente que me aborrece – e muito – o trânsito insuportável, sobretudo em algumas zonas ou as manobras que só se explicam se pensarmos que alguma dessa malta circula normalmente no lado errado da estrada. O estacionamento inexistente e desregulado, consequência de quem licencia rent-a-cars como se não houvesse amanhã.

Claro que me chateiam as trotinetes que circulam em cima de passeios, a alta velocidade, com duas pessoas a exercitar o equilibrismo em processo de aquisição em cima de uma tábua estreita e silenciosa, com rodas, que a todos surpreende quando nos ultrapassa.

Preocupa-me ver o Funchal inundado repentinamente por milhares de pessoas saídas de um qualquer monstruoso barco, todas encarneiradas para os mesmos sítios, aparentemente sem alternativa mas, sobretudo, não tendo nós capacidade de acomodar com qualidade estas curtas visitas, agora agravadas pelas abordagens incómodas e intrusivas para venda da nossa tão típica arte africana e/ou safaris (?!) em carros ainda mais velhos que eu. Está tão bom, isto, que os vendedores de time sharing quase parecem uns meninos de coro!

Incomoda-me a pressão. Nas levadas e percursos pedestres, nos passeios de barco todos feitos à mesma hora e a atracar nos mesmos sítios, no mercado dos Lavradores, em algumas artérias da nossa capital e mais ainda quando penso que alguns acham que resolvem a coisa com taxas (que, já se sabe, também me encanitam os nervos), que aliás tem sido um gosto ver como tanto têm melhorado a experiência dos nossos visitantes, nas cidades e nos percursos agora pagos.

E o que dizer das novas gincanas funchaleiras? Esse moderníssimo e tão cosmopolita exercício de serpenteio por entre sem-abrigo deitados em passeios a gritar impropérios contra o mundo, mesas, cadeiras e guarda-sóis em esplanadas que, se não são ilegais menos ainda se percebe como existem, mas que permitem que os nossos turistas saiam da ilha prontinhos para qualquer dança que envolva pronunciado jogo de anca.

Fico a achar que isto, tudo isto, que AGORA, finalmente, tem de ser analisado, estudado e pensado é consequência de algo bem maior: - a ausência de estratégia, que é sempre secundarizada em função da pressão do momento.

Em casa roubada, trancas à porta…

Triste sina, esta a nossa. Custa assim tanto, pensar antes de fazer ou deixar fazer? Ou é mesmo propositado, para que enquanto se olha para o lado a coisa possa continuar a andar ao sabor de micro (salvo seja) interesses?