DNOTICIAS.PT
Artigos

Da Ada Lovelace aos influencers

Entre algoritmos, vídeos virais e mil e uma tendências, há algo que permanece intocável: o poder de transformar com verdade e intenção. A verdadeira influência não se mede em gostos, mas em legado.

Num tempo em que tudo acontece depressa, e o novo de hoje já parece velho amanhã, vale a pena parar um instante. Respirar fundo. Lembrar que o mais importante nem sempre é o mais visível. Entre milhões de vídeos, publicações e “dancinhas” que circulam nas redes, há uma pergunta que insiste em ecoar: o que estamos a fazer com a atenção que conquistamos?

Ser influente não é o mesmo que ser popular. Não é preciso ter milhares de seguidores para marcar vidas. Basta ter algo para dizer, e dizê-lo com verdade. Um professor que inspira, uma artista que questiona, um cidadão que participa: todos podem ser ícones locais de mudança. A influência não vive do alcance, mas da intenção.

É curioso pensar que, no século XIX, uma mulher chamada Ada Lovelace já vislumbrava um mundo onde a matemática e os algoritmos podiam dar origem a criações belas e inesperadas. Numa época em que as mulheres mal tinham espaço para estudar, Ada ousou imaginar máquinas que não serviam apenas para cálculos, mas para criar música, arte, possibilidades. Não teve palco, nem hashtags, nem likes. Teve visão. Teve coragem. Teve propósito.

Durante muito tempo, ninguém lhe deu ouvidos. Mas, como tantas coisas que vêm do coração, a sua influência resistiu ao silêncio e ao tempo. Hoje, mais de um século depois, continua a inspirar. Porque há ideias que nascem antes do seu tempo e pessoas que plantam sementes mesmo sem saber se verão a árvore crescer.

Vivemos numa era em que todos podemos ser ouvidos. O desafio já não é falar, mas dizer algo que valha a pena ouvir. E aqui entra o que tantos criadores e comunicadores têm redescoberto: a consistência e a emoção são os alicerces da influência duradoura.

Não são as fórmulas mágicas nem os filtros perfeitos que ficam connosco. São as histórias sinceras, os bastidores partilhados, as falhas assumidas com graça. É quando alguém mostra quem é (e não apenas o que quer vender) que nasce a verdadeira ligação.

Ser constante não é ser repetitivo. É ser coerente. É manter uma linha de pensamento, um tom de voz, uma alma que se reconhece em tudo o que se partilha. E é isso que faz com que o público volte. Não por hábito, mas por afinidade.

E depois há a emoção. Aquele ingrediente quase invisível, mas absolutamente essencial. Um vídeo pode ensinar, uma publicação pode entreter; mas é a emoção que faz com que queiramos guardar, comentar, partilhar. Porque rimos, porque sentimos, porque nos vimos ali espelhados.

A influência que importa é aquela que nos faz parar e pensar. Que nos convida a agir. Que nos lembra que o digital é mais do que uma montra: pode ser também um espelho, um farol, um abraço.

Por isso, seja qual for a plataforma, o público ou o tema, há uma pergunta que todos devíamos fazer: para onde estou a levar quem me segue? Porque, no fim, os números podem subir e descer, mas as ideias que tocam corações, essas, ficam.

E talvez a maior lição seja esta: quem comunica com consistência e coração nunca sai de moda. Porque, como Ada Lovelace nos mostrou há tantos anos, a verdadeira influência não vive de ruído, vive de legado. E o legado constrói-se com intenção, passo a passo, palavra a palavra.