Trazer os madeirenses de volta a casa
É imperativo não regredir na nossa autonomia. Os termos atuais da nossa Zona Franca terminam no final do próximo ano. Deixámos de ter eurodeputados madeirenses. Que não se caia na tentação de desvalorizar estas ocorrências. Que não se caia na demagogia de vilanizar o turismo. Nós queremos mais autonomia, isto é, maior liberdade - mas mais liberdade, exige mais responsabilidade.
É indubitável que a vontade popular é de trazer os madeirenses, pelo mundo fora, de volta a casa, em detrimento de trazer imigrantes. Contudo, é preciso sermos realistas. Felizmente, a revolução tecnológica que estamos a atravessar apresenta oportunidades neste sentido, ainda que os desafios associados sejam algo complexos, especialmente numa terra inerentemente ligada à natureza. As repercussões sociais advindas do aparecimento da inteligência artificial são imprevisíveis. Há quem diga que com este “superpoder”, passaremos a desempenhar tarefas mais complexas, num mundo cada vez mais acelerado. Há quem diga que passaremos a ter mais tempo para nos dedicarmos a temas menos valorizados atualmente, nomeadamente na área das ciências sociais. Há quem diga, até, que cada um terá o seu robô para, posteriormente, alugar. Visto que estas novas formas de inteligência não necessitarão de recursos financeiros, pode não ser uma afirmação assim tão descabida, mas certamente digna de um filme de ‘sci-fi’.
A transição será um exercício intricado e do qual se exige imensa responsabilidade. Se estas propriedades intelectuais reservarem-se exclusivamente a determinados grupos, a desigualdade social será intensificada. Por outro lado, não projetar este futuro implica ficarmos presos ao passado. Implica que a Madeira não seja um polo de investimento atrativo. Implica conformar-nos ao estatuto de sítio “para inglês ver”. Implica não criarmos valor acrescentado para nós, mas para os outros.
Ao contrário do receio demonstrado pelo Governo central em tomar decisões neste sentido, o Governo Regional tem agido de forma proativa. Demonstra-o nas suas políticas de educação e na compra de um cabo submarino. Há a vontade expressa do IRC, a longo prazo, passar a ser de 10%, algo que pode fazer toda a diferença em tornar a ilha num polo tecnológico. Dito isto, numa era de tamanha instabilidade política, não basta serem os atuais responsáveis a ‘remar neste sentido’. A vontade popular será priorizada, e bem, cabendo a nós, jovens, alertar para a necessidade desta transição, sabendo que, tal como no aparecimento da internet, nem tudo será ‘um mar de rosas’. Que não se caia na tentação de seguir políticas de pura demagogia, como a moratória que foi aprovada na Assembleia da República, em que se impede mineração em mar profundo até 2050 - minerais, esses, fundamentais para a transição energética em curso. A questão energética é um fator fulcral na corrida à I.A. É imperativo não regredir na nossa autonomia. Mais imperativo ainda é expandi-la. Lisboa pode querer ficar para trás, a Madeira não.