A queda
Em dezembro de 2019, o partido Conservador britânico conseguiu uma das suas maiores vitórias eleitorais. Em sentido inverso, o partido Trabalhista, teve uma dura derrota, a qual foi associada à inexorável morte do trabalhismo. Profetizava-se o fim socialismo e da social-democracia perante a ascensão imparável do populismo conservador.
Esta ideia apareceu como uma redefinição da teoria de Fukuyama do fim da História. O novo inevitável é o governo por homens fortes (de que Andrew Tate é um epifenómeno).
Puxando a cassete para a frente, verificou-se a ascensão e queda de muitos desses personagens, dos quais Boris Johnson é apenas um exemplo. Ao invés, Keir Starmer foi eleito primeiro-ministro com uma vitória histórica, lembrando a de Clement Attlee (outro líder trabalhista, visto como brando, mas que desenhou e implementou os “gloriosos 30” anos de crescimento do Reino Unido no pós-guerra).
A lição que já deveríamos ter aprendido é que a História não tem fim, seja como propósito, seja como término.
Confesso que me é difícil explicar isto a um adolescente de 17 anos, sobretudo quando habita numa região que é governada há 50 anos pelo mesmo partido (e antes só conheceu a colonia e o fascismo). As pessoas dizem-lhe “isto não muda”. Na internet é inundado da propaganda de Trump e André Ventura. Nas caixas de comentários dos jornais (e não só) assiste-se a um exército de minions, cuja missão é insultar os demais, bajular “o presidente” e afirmar que não há outra vida. Este “capacete” não aparece só em Junho; ele parece permanente.
Da última vez que ouvimos que não havia alternativa, tivemos a troika. Sofremos muito. No horizonte diziam-nos que não havia dinheiro e só a austeridade salvava. Deveu-se a Mário Centeno e António Costa demonstrar que é possível conciliar crescimento económico, contas públicas equilibradas e políticas de esquerda. Por isso os pares europeus elegeram António Costa como presidente do Conselho Europeu e antes Mário Centeno como presidente do Eurogrupo.
No top 5 dos países da União Europeia que mais cresceram estão a Dinamarca (3,6) e a Espanha (3,2) governadas por congéneres do PS. O socialismo-democrático cumpre com o compromisso de crescimento, democracia, redistribuição e direitos. Ao invés, o populismo autocrata húngaro e a extrema-direita italiana trazem valores anémicos (Hungria 0,5 e Itália 0,7).
Passar pela oposição é uma forma de reconhecer impasses e construir alternativas. Mesmo aqui perto, em Canárias, é normal a alternância entre partidos. É claro que o PS percebe os problemas e as dores de crescimento. O que não é normal é o fatalismo da queda. Quando se cai, levanta-se.