O país vira mas ninguém assume a culpa. O sistema está a definhar
Reflexão crítica sobre as eleições legislativas de 18 de maio de 2025. Os resultados das eleições legislativas de 18 de maio de 2025(hoje) evidenciam um momento de viragem e, para muitos, de sobressalto no panorama político nacional. Com uma votação surpreendente e preocupante, a extrema-direita representada pelo Chega (CH) ultrapassou os 20% e consolidou-se como uma das principais forças políticas do país. Este crescimento, que noutros tempos pareceria improvável, é hoje uma realidade e deve merecer uma reflexão séria e profunda. O que falhou na resposta democrática e institucional que permitiu tal ascensão? Como é que o discurso da exclusão, da polarização e da demagogia passou a ser tão legitimado por uma fatia significativa do eleitorado?
É urgente perceber que a luta contra o extremismo não se combate apenas com escândalos ou indignações públicas: combate-se com políticas justas, com uma comunicação eficaz e com uma presença ativa nos territórios esquecidos, onde muitas vezes a única mão estendida parece vir daqueles que prometem soluções simples para problemas complexos.
Do lado contrário do espetro, assistimos a um claro declínio da esquerda. O Partido Socialista (PS), embora tenha conseguido manter uma presença, perdeu expressão. O Bloco de Esquerda (B.E.) parece ter esgotado a sua função política e não apresenta renovação estratégica que justifique a sua permanência. A sua mensagem já não mobiliza nem convence. É tempo de reconhecer que o espaço político que ocupavam está a ser absorvido ou por uma esquerda mais pragmática ou por uma juventude desiludida que já não se revê no modelo clássico da oposição ideológica. O PCP, por sua vez, confirma a sua estagnação. A sua linguagem, discurso e organização encontram-se ancorados num passado que já não mobiliza nem representa o presente. É inevitável: o partido precisa de uma renovação profunda e, acima de tudo, de uma nova liderança que saiba ouvir o tempo e adaptar-se às realidades.
Do lado dos vencedores, a Aliança Democrática (AD), liderada por Luís Montenegro, merece elogios claros. Com mais de 41% dos votos, a coligação PSD/CDS reafirma a sua capacidade de unir o centro-direita e de recuperar a confiança de muitos portugueses. Montenegro mostrou consistência, prudência e uma notável capacidade de liderança, e os resultados estão à vista. A AD venceu, não apenas pela força das suas propostas, mas também por ter sabido manter-se como um polo de estabilidade face à turbulência do crescimento radical.
Parabéns também ao JPP (Juntos pelo Povo), que elegeu pela primeira vez um deputado nas legislativas nacionais. O partido, oriundo da Madeira, mostrou que com trabalho local, proximidade às populações e discurso claro, é possível crescer. É um sinal de que os movimentos de base, quando sérios e consistentes, podem furar os grandes blocos e marcar a diferença. Espero somente que deixem o populismo e se concentrem em soluções . Parabéns ao Filipe . Honestamente para si é merecido.
Para mim não é surpresa, admiro e reconheço o que faz Rui Tavares, do Livre, que, embora ainda minoritário, apresenta um crescimento positivo. Com um discurso progressista, ético e ecologista, o partido começa a ganhar espaço na sociedade portuguesa urbana e jovem. Parabéns a Rui Tavares pela persistência e coerência.
A Iniciativa Liberal (IL) manteve-se no parlamento, mas está agora numa encruzilhada: quer ser uma bengala do governo ou uma alternativa? A coerência será fundamental para manter a sua credibilidade. O eleitorado liberal não perdoa vacilações nem populismos.
Por fim, um apelo direto a Sérgio Sousa Pinto: é tempo de assumir protagonismo. O PS precisa de uma nova liderança que compreenda os tempos, que não tema os combates ideológicos mas que também saiba reconquistar os moderados. Sousa Pinto tem a experiência, a visão e o discurso para liderar esse novo caminho. O PS não pode continuar em deriva silenciosa enquanto o país muda à sua volta.
Este ato eleitoral é mais do que uma vitória ou derrota de partidos. É um espelho de um país em transformação, dividido, cansado, mas ainda com sinais de esperança. Que saibamos, todos, estar à altura deste tempo.