A escavar o fundo
Chegámos, mais uma vez, ao fim da linha. Mas desta vez fomos mais longe : estamos já a escavar o fundo . Já não é a primeira, nem a segunda, nem será, se nada for feito, a última. O PS Madeira soma derrotas atrás de derrotas, falha onde deveria afirmar-se, recua onde deveria liderar, e hoje, com o resultado humilhante das legislativas nacionais, confirma-se o que era previsível: mais um fracasso, mais uma oportunidade desperdiçada, mais uma prova de que a atual Direção e Paulo Cafôfo não têm condições para continuar. Mas não é de agora , começou com o recomeço do actual líder e tem sido um “festival” de decepções e humilhações sempre escondidas , sempre desvalorizadas. Já é aflitivo e a roçar o patológico, sobretudo quando a figura insiste em dar ares de normalidade !
Não se trata de um incidente isolado. Trata-se de uma trajetória marcada por erros graves e repetidos. A estratégia parece ser a do fazer o que tem de ser feito para falhar ! Foram duas eleições regionais perdidas consecutivamente, em pleno ciclo de desgaste do PSD, quando a alternância era possível e necessária. Quando o PSD estava no seu pior momento . Em vez de capitalizar o desgaste do poder, em vez de ter em conta o que tinha de ser mudado para não atingir o colapso da única alternativa progressista e viável , o PS Madeira permitiu que o PSD se reorganizasse e regressasse à maioria absoluta — num dos momentos de maior fragilidade política da sua história. Permitiu porque foi incompetente politicamente e , sobretudo, egoísta, oportunista e irresponsável!
Todos os alertas foram dados. Todos foram avisados. Eu próprio escrevi, tomei posição, fiz ver que este caminho conduzia à derrota e jamais levaria à constituição de um governo com o PS M . Não valeu a pena, fui insultado, desvalorizado, afastado e hostilizado. Mas não foi apenas eu . Todos os que se opuseram e procuraram alertar para a desgraça que se avizinhava, tiveram o mesmo destino ! A arrogância e a ausência de responsabilidade , mesmo quando falha sistematicamente, falou mais alto. A consequência está à vista de todos.
A responsabilidade é clara e tem rosto: Paulo Cafôfo e a Direção que o acompanha falharam em tudo. Falharam na construção de uma alternativa mobilizadora, falharam na leitura do momento político, falharam na relação com os militantes. Mas sobretudo falharam na relação com a sociedade, com os madeirenses . Falharam sempre e não aprenderam nunca . E, pior do que isso, não têm a humildade de se afastar. Não têm vergonha !
Hoje, Paulo Cafôfo já devia estar longe , há muito, dos comandos do PS Madeira. Não apenas por inépcia ou incapacidade política, mas por egoísmo e oportunismo e, sobretudo, porque passou a ser o problema! Porque fez do partido um instrumento ao serviço de si próprio, e não da Madeira e dos madeirenses. Porque prefere garantir lugares a construir vitórias. Porque, mesmo perante este novo desaire, insiste em liderar processos como se nada se tivesse passado — com o mesmo desplante, a mesma falta de vergonha, a mesma lógica de poder pelo poder.
Não há alternativa senão romper com este ciclo viciado.
A saída imediata de Paulo Cafôfo e da Direção Regional é inevitável e inadiável. O PS Madeira não pode continuar a ser arrastado para o abismo por quem já provou, repetidamente, que não tem capacidade para liderar. E não pode entrar em mais um processo autárquico sob a mesma tutela, sob o mesmo controlo, com os mesmos métodos e os mesmos resultados garantidos: derrota, desgaste e desmobilização.
É por isso que defendo a constituição de uma Comissão de Transição — independente, respeitada e acima das facções — com duas missões urgentes:
1. Preparar as eleições autárquicas com seriedade, competência e espírito de renovação, protegendo as câmaras que ainda governamos e permitindo a construção de candidaturas ganhadoras, especialmente no Funchal;
2. Organizar eleições internas verdadeiramente livres, democráticas e transparentes — em total rutura com o modelo instalado por Cafôfo. É público e notório que esta Direção tem manipulado os processos internos, fabricado “barrigas de aluguer” para manter o controlo e viciado sistematicamente os resultados. As últimas eleições internas, realizadas à pressa em apenas 15 dias, foram a última das farsas, cujas consequências estão agora à vista de todos. Os militantes não podem permitir que esse modelo se repita. O partido precisa de eleições sérias, com tempo, com debate, com garantias, e não de encenações para legitimar o mesmo poder de sempre. Talvez a reflexão sobre eleições internas num modelo de primárias deva ser equacionado de forma séria.
Essa Comissão deve representar uma rutura clara com o passado recente. Não pode ser uma extensão disfarçada dos mesmos protagonistas. Tem de ser o início de um novo tempo, com coragem, com ética e com futuro.
O PS Madeira não é propriedade de ninguém. Não é trampolim para carreiras pessoais, ou sala de espera para outro momento mais favorável . Mas também não é um instrumento de ambições sem projeto. É uma organização política ao serviço da Região e dos madeirenses e deve voltar a ser isso mesmo.
Mais uma vez, chegámos ao fim da linha. Mas desta vez, ou temos a coragem de sair dela e construir outro caminho — ou o PS Madeira desaparece enquanto força relevante na vida democrática regional.