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Compromisso: o valor esquecido da Política

Amanhã, é dia de decidir o rumo de Portugal e, com o nosso voto, darmos um sinal inequívoco do futuro que queremos para nós e, sobretudo, para as gerações futuras.

Hoje, dia de reflexão para as eleições legislativas nacionais, não podemos só pensar no presente imediato, mas também devemos refletir sobre os outros desafios que se avizinham.

Nos últimos tempos, temos assistido àquilo que se tornou, com frequência desconcertante, o novo normal da campanha política: o ruído. Um ruído ensurdecedor, onde se grita mais do que se escuta, se acusa mais do que se propõe. Em vez de pontes, cavam-se trincheiras, optando-se por ataques pessoais, em vez de se apresentarem soluções concretas para os problemas reais dos cidadãos.

A política, que devia ser o espaço por excelência do diálogo construtivo, transforma-se, demasiadas vezes, num palco onde vale tudo para brilhar, mesmo que seja à custa da verdade, da ética ou do bem comum.

Mas nós, enquanto sociedade, temos igualmente um papel a desempenhar. O desinteresse e a aceitação passiva deste estado de coisas contribuem para a sua perpetuação. Assim, olhando mais para a frente, para os cenários das seguintes decisões políticas, há, claramente, que repensar como queremos que seja a vida política e os seus atores principais.

Não podemos permitir que o espaço público se torne um território hostil àqueles que, com espírito de missão e sentido de dever, ainda acreditam no valor do compromisso. Não podemos ser coniventes com uma política feita de espetáculo vazio ou populismo oportunista, sem verdade nem ética.

Mais do que nunca, precisamos de pessoas que coloquem o interesse coletivo acima da conveniência pessoal, que saibam distinguir firmeza de arrogância, serviço público de palco pessoal. Precisamos de gente com coragem de dizer a verdade, mesmo quando não é popular, e que não ceda à tentação de prometer o impossível, mas que trabalhe com responsabilidade para concretizar o necessário. Pessoas que não estejam na política para se proteger, mas sim para proteger os outros. Precisamos de gente capaz, com valores e coragem. Com vontade de dizer “presente”.

E por isso, a pergunta que se impõe é esta: como atrair para a vida pública pessoas com princípios sólidos, que compreendam que a política se faz com verdade, com responsabilidade e com respeito?

Este apelo à política com valores não é abstrato nem uma carta enviada para destinatário incerto. É a todos nós. Todos os que têm algo a dar à comunidade, seja pouco ou muito, não podem recuar, não podem deixar que o desencanto os afaste. Porque quando recuam, abrem caminho a projetos sem rumo, a soluções improvisadas, a lideranças feitas de vaidade e não de visão.

Todo o tempo é sempre o timing perfeito para defender uma política com compromisso, com rosto humano e com sentido de futuro. Onde a razão caminhe ao lado do coração. Onde a decisão seja ponderada, mas não desprovida de empatia.

Por isso, reitero o apelo cívico: é tempo de garantir que se lancem as sementes para que a política volte a ser sinónimo de compromisso e seriedade, e não de oportunismo, retrocesso e desilusão. Porque ninguém pode ficar para trás. Uma frase que tantas vezes repeti em discursos e intervenções no passado, sempre com a convicção de que a verdadeira inclusão é a base de qualquer sociedade justa. E uma sociedade justa constrói-se, como dizia o Papa Francisco, com “todos, todos, todos”.

P.S.: O dia 17 de maio traz dois marcos que, à primeira vista, poderiam parecer distantes: o Dia Mundial da Internet e a presença de um grupo madeirense, os NAPA, na final da Eurovisão 2025. Mas há um fio invisível que os une: a forma como nos ligamos ao mundo e uns aos outros.

A Internet, esse poderoso espelho do nosso tempo, pode ser efetivamente uma janela de conhecimentos, mas também é palco de julgamentos sumários. Esquecemo-nos, neste caso em concreto, de que, do outro lado do ecrã, há jovens que merecem o nosso aplauso e orgulho.

Apesar das vozes críticas, os NAPA, com talento e alma, chegaram à final, e com os versos “porque eu vim de longe/eu vim do meio do mar/do coração do oceano” levam o nome da Madeira e de Portugal além-fronteiras.

Aos NAPA, votos (também literalmente) de excelente prestação!