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Leilão

Arrisco-me, com o que está a passar-me pela cabeça escrever, a perder os últimos dois ou três leitores que ainda me restam deste exercício mensal de gestão de caracteres mas pronto, como é o que penso, cá vai disto.

No que concerne a avaliação do trabalho, não acredito em igualdade. Não acho que, para função igual, o salário deva ser igual nem em nenhuma dessas teorias que, a mim, parecem sempre um caminhar rumo à mediocridade.

Sou contra promoções por antiguidade, diuturnidades, prémios de línguas e subsídios de alimentação pagos 14 meses. Tenho imensa dificuldade em compreender critérios de avaliação com números clausus.

Acredito que cada um de nós deve ser avaliado por si, pelo que faz individualmente e como membro integrante de uma equipa mais vasta (se for caso disso), devendo ser premiado de acordo com o que contribui para o todo. Qualquer outro sistema ou método não funciona e, repito-me, promove a mediocridade.

Não gosto de trabalhar para estar na média, para ser igual aos outros ou para fazer como a minha concorrência faz. Quem trabalha mais, deve ganhar mais. Quem trabalha melhor, deve ser compensado por isso. E as regras devem ser iguais para todos!

Por causa disto tudo, preocupa-me que se venha a cumprir uma das promessas eleitorais feitas, de aumento do salário mínimo para os 1.200€ até 2029. Assim mesmo, só isto, sem cuidar de mais nada. Produzindo o mesmo ou até quiçá menos, artificializamos um acréscimo de produtividade, a única justificação possível que deveria existir para este número.

Atenção que não acho que se ganhe bem ou sequer que o número esteja errado. Não me explicaram como lá chegaram pelo que fiquei com a sensação de que foi mesmo a lógica do quem dá mais.

Sei, isso de certeza absoluta, é das consequências negativas deste aumento. Se não mexerem na fiscalidade, reduzindo de alguma maneira aquilo que as empresas já pagam, muitos pequenos negócios só sobreviverão com mais economia paralela. Ou está o consumidor preparado para pagar mais 25% pelo seu café ou corte de cabelo?

Pior, o que fazer em relação aos salários médios? Aqueles que são pagos premiando experiência, conhecimento, estudo, habilitações. Com um mínimo destes, vamos gerar imensa insatisfação e não teremos, sobretudo as empresas de menor dimensão, qualquer capacidade para premiar estas pessoas, que serão as maiores prejudicadas por esta medida.

Em paralelo, para piorar a coisa, continuamos sem mexer uma palha para resolver esta enorme discrepância entre as regras do sector público e do privado e continuamos a ver sair gente, sem hipótese de lhes oferecer nada parecido.

Como disse há dias numa entrevista de trabalho a uma rapariga de 26 anos, solteira e sem filhos, que exigia horário seguido e folgas ao fim-de-semana só porque sim, no dia em que ela convencesse os clientes no sector onde trabalho a jantar depois do pequeno-almoço e a desamparar a loja ao Sábado e Domingo, dava-lhe tudo o que ela estava a pedir. Mas só nesse dia…

Tudo isto é altamente impopular, eu sei. Mas enquanto não percebermos que quem paga este regabofe somos nós e não o senhor governo, assim continuaremos, neste leilão de promessas irresponsáveis, a ver quem dá mais.

Boa Páscoa!