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Análise

Entre discursos e a realidade: o que espera o cidadão

1. Assistimos a mais uma tomada de posse do Governo Regional, a 16.ª desde a fundação da Autonomia, em 1976. Foi uma cerimónia habitual, marcada por discursos mais curtos — o que se aplaude — e por um beija-mão interminável, protagonizado por aqueles que fazem questão de não ser esquecidos, talvez lembrando que a distribuição de lugares na administração pública está em curso.

O presidente do Governo prometeu estabilidade e progresso, com a experiência de quem já está calejado nestas funções, enquanto a oposição garantiu uma vigilância cerrada. Mas não é isso que se espera de quem governa e de quem fiscaliza? Nada de novo sobre a Terra, portanto.

O que move o cidadão trabalhador é algo simples e humano: o desejo de ser feliz. Para tal, exige-se uma administração pública eficiente e prestável, uma carga fiscal justa que não penalize excessivamente o rendimento do trabalho, uma saúde com meios adequados e resposta célere, uma educação de qualidade e adaptada aos tempos, apoios efectivos e desburocratizados à habitação, políticas de apoio à população sénior que respondam às suas reais necessidades e que garantam dignidade na recta final da vida.

Requer-se, ainda, uma política de mobilidade que nos permita deslocações ao continente português sem dramas financeiros.

São estas, em traços gerais, as grandes preocupações da população. Num mundo em mutação constante, precisamos de estabilidade, de empresas robustas, de uma economia forte, diversificada e capaz de assegurar emprego digno, com remuneração justa e assente em fundamentos reais.

Ninguém pode viver com dignidade com um salário de miséria. Muitos jovens, hoje, adiam projectos de vida legítimos porque não conseguem construir nada de sólido. Ganham pouco e enfrentam um mercado cada vez mais caro. Ao contrário da geração anterior, optam por viajar em vez de investir numa habitação própria — um objectivo que, para a esmagadora maioria, se tornou uma missão impossível.

Actualmente já há famílias a recorrer ao crédito para pagarem a renda da casa ou o empréstimo bancário. Um descalabro que promete aumentar de dimensão.

Tudo o que o poder político fizer neste campo será bem-vindo. O que tem sido feito não chega e tem sido lento. Basta olhar para o número crescente de pessoas que aguardam por habitação pública.

2. Mesmo os não crentes não ficam indiferentes ao exemplo diário do Papa Francisco. Num mundo em permanente convulsão e em contraciclo com os valores socialmente mais aceitáveis, Francisco surge como um verdadeiro bálsamo.

Poucos Papas ousaram romper com a tradição como ele. Ao aparecer em público sem as tradicionais vestes papais, quis mostrar, na sua fragilidade física de um ancião numa cadeira de rodas, a grandeza dos valores humanos. É um de nós — enfraquecido, sofrido, mas de uma simplicidade cristalina e com uma mensagem carregada de bom-senso, num tempo em que a narrativa universal se torna perigosa e ultrajante.

Francisco é, seguramente, uma das figuras que toca no Céu.

3. D. José Ornelas, bispo madeirense de Leiria-Fátima, foi assertivo e provocador ao comparar Donald Trump a Adolf Hitler. Pode parecer uma comparação excessiva, mas não o é para quem tem noção da História.

A torrente de medidas egoístas e controversas que Trump tem promovido enquanto presidente dos Estados Unidos está a gerar verdadeiros terramotos no equilíbrio e na ordem internacional, empurrando o mundo para o abismo.

Hitler só foi travado muitos anos após ter instaurado o terror. Desapareceu, deixando atrás de si um rasto de destruição e a morte de milhões. Ignorar os sinais dos tempos, hoje, é repetir os erros do passado.

E saber que a fundação daquele país foi celebrada com Vinho da Madeira, que está também, agora, a ser penalizado com o anúncio de tarifas estapafúrdias, num mercado importante.