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“Trumpidez”

A findar o primeiro quartel do século XXI, o panorama da economia internacional volta a sofrer mais um forte abalo.

Após séculos de trabalho conjunto, levado a cabo por inúmeros países civilizados, no sentido de estreitar ligações, quebrar barreiras sociais, económicas e alfandegárias, numa ótica de crescimento conjunto e aproximação entre as principais economias mundiais, eis que renasce como Presidente dos EUA, Donald Trump, que apesar de estar ainda em início de mandato, conta já com as suas políticas que, pelos piores motivos infelizmente ficarão para a História.

Além dos americanos que o escolheram para presidente, porventura crendo nas suas promessas irreverentes e patrióticas, poucos já acreditavam no sucesso da administração Trump, mas a verdade é que passados cerca de três meses é tudo muito pior do que alguma vez se imaginaria. A falta de ética e rigor de critérios é gritante e ao arrepio de qualquer princípio de boa governação.

Desde logo, no que toca à imigração, leva-nos a questionar como é que um país tão heterogéneo, com os seus 50 estados que nasceu e cresceu ao longo dos séculos sobretudo da imigração, consegue agora dar uma bofetada na sua própria História, com as suas regras radicais e absurdas de deportações.

Quem vê e ouve Donald Trump falar sobre este tema nunca diria que o próprio é filho de descendente alemão e de mãe escocesa; que a sua mulher nasceu na Eslovénia e que o seu vice presidente é natural da África do Sul.

Como se não bastasse, do ponto de vista económico-financeiro, estabeleceu as suas já famosas tarifas sobre as importações, cujas taxas foram baseadas numa anedótica fórmula matemática, digna da autoria do Pateta, aquele personagem do Walt Disney, que nos divertia na infância pela sua pouca inteligência, que pensava sempre ao contrário e que adorava cachorros quentes com caramelo.

Até parece piada mas não é. Para além do jogo das taxas, que já lhe valeram a acusação de vários quadrantes de tentativa de manipulação dos mercados financeiros, este senhor já ameaça alterar a Constituição no que toca à limitação do mandato presidencial. O que não diria George Washington se fosse vivo. Esperemos que não tenha tempo para concretizar aquele que seria um histórico retrocesso da democracia.

A réstia de esperança é supor que a sua falta de seriedade e a instabilidade das suas decisões com sucessivos avanços e recuos, consigam travar a confiança dos seus potenciais e perigosos aliados, dificultando toda e qualquer concertação de estratégia geopolítica mundial.

A verdade é que, infelizmente, aquela velha máxima que quando a América se constipa o resto do mundo apanha uma pneumonia, continua bem viva e neste velho continente o caminho para a cura é bem longo, onde parece que só agora se percebeu que é tempo de emancipação.

Assim como é tempo de repensar e reconhecer a dignidade e importância da política e dos seus agentes, sob pena de termos cada vez mais “Trumps”.

Até porque a “trumpidez” não paga imposto mas custa muito caro a todos nós.