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Destino: Trindade e Tobago

Apesar de não ter sido um destino tradicional da emigração madeirense, a presença dos nossos conterrâneos em Trindade e Tobago deixou marcas profundas, que ainda hoje se fazem sentir. O cheiro e sabor da carne de vinha d’alhos, por exemplo, transformou-se num dos pratos típicos do Natal — o famoso “garlic pork” — que se fundiu com os costumes e ingredientes locais.

O comércio foi, desde o início, o setor preferido pela maioria dos madeirenses. Muitos estabeleceram pequenas lojas e mercearias nas ruas de Port of Spain, a capital, onde ainda hoje é possível encontrar negócios geridos por descendentes de portugueses, especialmente ligados à produção e venda de rum.

Como começou esta aventura madeirense nas Antilhas? Segundo a Dra. Jo-Anne Ferreira, professora e investigadora da Universidade das Índias Ocidentais (University of the West Indies), os madeirenses foram o maior contingente da imigração portuguesa para as Antilhas. A investigadora destaca que os primeiros imigrantes portugueses chegaram a Trindade para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar e cacau, numa altura em que o sistema da escravatura estava a ser desmantelado.

O primeiro grupo de madeirenses desembarcou em Trindade em dezembro de 1834, ano em que foi abolida a escravatura no Império Britânico. Chegaram a bordo do navio Stralhista, que transportava 28 passageiros — pioneiros de uma diáspora que se espalharia por várias freguesias da Madeira.

As chamadas “lojas madeirenses” reproduziam o modelo tradicional das lojas da ilha, ainda hoje visíveis em algumas zonas rurais da Região. Eram normalmente divididas em duas seções: de um lado vendia-se rum e vinho, do outro, produtos secos e alimentos variados.

A comunidade madeirense integrou-se rapidamente e deu contributos significativos em várias áreas. Em entrevista, a Dra. Jo-Anne Ferreira destacou alguns nomes notáveis: Joseph Bento Fernandes e Ignatius Ferreira, empresários pioneiros na indústria; Diego Serrão, uma figura marcante da rádio; e Isabella Ribeiro de Cabral, que se tornou na primeira mulher piloto do país.

A comunidade luso-trinitária continua a celebrar as suas raízes através de associações culturais e através da transmissão da língua e tradições entre gerações.

Hoje, a herança madeirense em Trindade e Tobago é um exemplo de resiliência e integração cultural. A ligação entre estes arquipélagos— tão distantes no mapa, mas tão próximos na essência — é testemunho de como a emigração molda identidades e constrói pontes entre mundos.