Agendas inovadoras, precisam-se!
O congresso que não estava previsto acontecer foi a resposta às investidas do ex-líder Carlos Pereira, mais preocupado, agora, com os ‘negócios’ na República
1. As forças políticas que concorrem às eleições de Março orçamentaram mais de um milhão de euros na campanha que arranca oficialmente a 9 de Março, mas que já está na estrada. Este montante não passa despercebido a uma população que lida diariamente com o aumento do custo de vida, dificuldades no acesso à habitação e salários desfasados da realidade inflacionária, cansada de iniciativas mais ou menos folclóricas. São os custos da democracia, dizem os que se conformam com o estado do sítio. Ambos esperam propostas claras, objectivas e arrojadas, que saiam do âmbito das clássicas prioridades elencadas.
A Madeira precisa de mais do que slogans e promessas recicladas. A modernização da economia, a aposta em sectores emergentes como as novas tecnologias e a inteligência artificial, bem como a diversificação das fontes de receita para além do turismo, deveriam ser temas centrais nas campanhas. Infelizmente, muitas iniciativas focam-se demasiado na promoção pessoal dos candidatos, em vez de apresentarem propostas tangíveis para um futuro sustentável.
2. O PS-M tem, neste fim-de-semana, o seu momento de glória interna, com a coroação de Paulo Cafôfo para mais um mandato na liderança. O congresso que não estava previsto acontecer foi a resposta às investidas do ex-líder Carlos Pereira, mais preocupado, agora, com os ‘negócios’ na República. A reunião magna servirá para Cafôfo reforçar o seu poder e ter uma janela privilegiada para vincar as suas prioridades paras as Regionais de 23 de Março e criticar o seu principal rival político, Miguel Albuquerque, que ajudou a derrubar em Dezembro passado, quando votou favoravelmente a moção de censura da iniciativa do Chega, contrariamente ao que optou por fazer Pedro Nuno Santos, o secretário-geral do PS, que não quis embarcar nos argumentos de um partido cada vez afundado em casos de polícia, tendo chumbado a moção de censura na Assembleia da República.
3. Enquanto os partidos se digladiam no palco eleitoral, a realidade impõe desafios urgentes que exigem respostas imediatas. Um dos mais alarmantes é a crise na pedopsiquiatria do Serviço de Saúde da Madeira (SESARAM). Com apenas duas médicas para atender toda a Região, o serviço encontra-se numa situação de ruptura. A falta de especialistas levou à suspensão da prevenção nas urgências, obrigando crianças e adolescentes com perturbações psiquiátricas a serem atendidos por pediatras, comprometendo a qualidade dos diagnósticos e dos tratamentos.
O aumento exponencial de casos de ansiedade, depressão, distúrbios alimentares e dependências digitais entre os jovens torna esta escassez de recursos ainda mais preocupante. Em 2021, 161 crianças estavam em lista de espera para uma primeira consulta de pedopsiquiatria. Desde então, o SESARAM deixou de divulgar dados actualizados, o que levanta suspeitas sobre uma possível degradação ainda maior da situação. A transparência na comunicação destes números é essencial para que se possam encontrar soluções eficazes.
Especialistas há muito alertam para a necessidade de uma reforma estrutural no sector. Uma das propostas recusadas no passado envolvia a cooperação entre os serviços de psiquiatria de adultos e os de infância e adolescência, garantindo uma resposta mais eficaz e integrada. Dada a actual crise, retomar esta discussão torna-se imperativo.