Pilha-galinhas
Valha a verdade: os pilha-galinhas não querem chegar a ladrões! Isso dá muito trabalho (...)
Ponto prévio:
Numa coisa chamada Índice de Percepção de Corrupção, Portugal desceu uns quantos lugares e está agora na 43ª posição com 57 pontos, em igualdade pontual com o Botswana e o Ruanda!
É o que é…
Em termos de definição, um (ou uma) pilha-galinhas refere-se a uma pessoa que
1 – rouba capoeiras
2 – rouba pequenas coisas!
Pois, experimentem deitar a mão a uma galinha do campo, daquelas com mais de quatro quilos e depois digam que é coisa pequena… (não que alguma vez tenha tentado tal coisa, cruz credo!!, mas já vi galinhas do campo com quase cinco quilos e posso dizer que pouca falta para serem perús!).
Voltando aos pilha-galinhas, que tanto roubam pequenas coisas como roubam capoeiras, popularmente também se pode usar o termo para designar aqueles que, ao contrário dos ladrões que roubam coisas grandes, só roubam coisas pequenas. E porque só roubam coisas pequenas são apanhados com mais facilidade do que aqueles que dedicam a sua vida a roubar coisas grandes. Parece um paradoxo, mas esconder coisas pequenas é mais difícil do que esconder coisas grandes, pela simples razão de que ninguém acredita que as coisas grandes são efectivamente roubadas!
Valha a verdade: os pilha-galinhas não querem chegar a ladrões! Isso dá muito trabalho e os pilha-galinhas são como as lagartixas. Nunca serão jacarés!
O mesmo se passa no negócio da usura: se atrasamos um dia no pagamento da segurança social, ou na prestação da casa ao banco, somos logo referenciados como uns malandros da pior espécie ao Banco de Portugal (aquele do Carlos Costa e do Centeno) no segundo caso e ao fisco (de todos nós!) no primeiro. Mas se um qualquer cidadão tiver a arte e o saber de ficar a dever uns quantos milhares (ou milhões) de euritos a qualquer destas “simpáticas” entidades, aqueles mesmos fiscalizadores/reguladores tratam esse mesmo cidadão com luvas de pelica, pois o que querem é ver se o dinheirinho lhes entra nos cofres!
Não passamos de pilha-galinhas para estas entidades fiscalizadoras e/ou reguladoras!
É a nossa sina, o nosso fado bem português: somos pequeninhos até nas pilhagens!
Mas não quer dizer que não haja por aí uns pilha-perus ou pilha-avestruzes, claro que há, mas como pilham coisas bem maiores e até se sentam na mesa do almoço com as raposas que têm por objecto de vida a fiscalização. Mas como já vimos acima, dizem fiscalizar os negócios dos perus e das avestruzes, mas na realidade ficam-se pelos galináceos mais pequenos, quase frangos diria, porque são mais fáceis de agarrar e menos difíceis de acusar!
Recentemente um pilha-galinhas foi apanhado (alegadamente apanhado, como se deve dizer) com a mão na massa (ou na mala) e o que houve de comentários por tudo o que é rede social! Só porque o rapaz faz parte de um grupo onde os pilha-galinhas não são bem-vindos.
Ali só de perú para cima (agora já estou feito ao bife, como soe dizer-se).
Vejamos: um grupo de colegas do alegado pilha-galinhas despediu (ou encerrou alguns postos de trabalho, como alegam) umas colaboradoras que por sinal tinham sido mães há pouco tempo. Também houve comentários, mas menos. Foi só perú, não chegaram a avestruz! Os que chegam a este estatuto têm direito a alguns comentários, mas incomensuravelmente menores dos que se dedicam aos galináceos de pequenas dimensões.
Vejamos mais uma vez: um alto executivo de um cargo público que exigia exclusividade, para compor o seu orçamento doméstico, fazia uns biscates nuns quantos hospitais de norte a sul do país. Não podia, mas fazia. Quando descobriram a manigância, despediu-se (ou foi despedido) e caiu tudo no esquecimento. O que é preciso é que o Serviço Nacional da sua responsabilidade siga em frente, que se lixe a avestruz!
Nós portugueses temos alma de pilha-galinhas, desenrascando “algum” para o dia a dia, deixando os perús e avestruzes para os grandes, incluindo o próprio Estado!
Há umas décadas o Estado roubou (nacionalizou, foi assim que chamaram os revolucionários) uma série de bens que pertenciam a cidadãos que incautamente confiavam ser o Estado uma “pessoa de bem”.
Isto é, o Estado fez de pilha-avestruzes, com os pilha-galinhas a ver, impotentes para reverter o sentido da coisa.
Anos mais tarde, alguns pilha-avestruzes, valendo-se da sua posição similar à daqueles que dizem defender a estabilidade no trabalho, mas que quando lhes chega ao pêlo, fazem o contrário do que preconizam, uns pilha-avestruzes desses, revertem por artes das leis que ajudaram a construir e em proveito próprio, o produto roubado pelo Estado pilha-avestruzes!
Mas o nosso povo tem o fado no coração e, qual lagartixa que nunca há de ser jacaré, continuará a sua senda de pilha-galinhas a deixar campo livre para os pilha-perus e pilha-avestruzes do nosso descontentamento!
Pode ser que de capoeira em capoeira ainda possamos (ainda há quem diga póssamos…) esperar que nos caia algum perú no prato, não que queiramos ser pilha-perús cruz credo!!, mas lá vem o dia que até pode dar jeito!