15 anos
O tempo passa rápido! Diz-se... Mas, como elucida Einstein, também isso pode ser relativo, dependendo de quem o observa. E se 15 anos pode parecer muito tempo, a intrincada sequência de eventos que cada dia nos cativa, motiva e nos faz apaixonar pelas coisas, faz certamente relativizá-lo.
Em setembro de 2010, era eu um jovem médico representante da classe, e resolvi escrever um artigo de opinião no Diário de Notícias da Madeira que intitulei “As doenças da Saúde”, enaltecendo o notável percurso que a saúde regional percorreu após a revolução de Abril e a Autonomia. Alertei, no entanto, para o que faltava ainda fazer e os erros que estavam a ser cometidos na altura: a politização excessiva da saúde, a priorização dos cuidados hospitalares em detrimento dos cuidados de saúde primários e da prevenção das doenças... Escrevi outro artigo, “O novo/velho hospital” onde alertei para o erro do cancelamento do projeto do novo hospital da Madeira. Em ambos recebi um telefonema de desagrado do Sr. Secretário da tutela, indicando o quão eu estava errado e o quão ingrato estava a ser. Não retorqui os argumentos, só referi que a opinião (igual ou distinta) é um direito constitucional fundamental, mesmo na Madeira. Curioso que agora esses pensamentos “pecaminosos” são consensuais na sociedade madeirense.
Esses eram tempos diferentes. O regime jardinista mostrava então sinais de fraqueza. O tempo das “vacas gordas” acabara, os cortes instituídos pela crise da dívida já antecipavam a Troika. A saúde era gerida com “mão de ferro”, tão pesada como cega e por vezes ineficaz. Esses artigos foram como que um marco para mim, com um tempo antes e outro tempo depois.
Depois seguiram-se muitos outros artigos, de periodicidade mensal, totalizando quase duas centenas em 15 anos. Indiscutivelmente tem sido um privilégio, que agradeço ao DN-M. Privilégio, pois, tem sido um caminho de autoconhecimento, de uma reflexão mais profunda, mesmo de autocrítica, de crescimento como pessoa. De coragem no exercício da genuína liberdade de opinar. Um equilíbrio entre clareza, frontalidade e respeito pelas instituições e sujeitos, o que constitui um enorme desafio de disciplina na escrita. Nesses artigos procuro manifestar os meus sentimentos pessoais, muitos problemas sociais, os princípios relevantes que me norteiam, certos debates contemporâneos, os desafios que nos acompanham como região e nação e, porque não, também certas paixões.
Estes artigos são imperfeitos por definição, pois são a manifestação da minha opinião pessoal, mesmo que por norma fundamentada e procurando o contraditório. Aqui, creio que reside o cerne do meu empenho aquando da reflexão e da escrita, o que designaria como “fundamentação crítica”. E isto tem muito a ver com algo que me marcou em adolescente quando estudava filosofia, “O Discurso sobre o Método”, de Descartes, para muitos o pai do pensamento científico moderno, baseado na razão, razão que será testada, e é sempre provisória, até substituição por outra melhor e mais fundamentada. Imperfeitos por decisão, pois sempre assumi um princípio inegociável: o respeito pela tolerância. Seja por outra cultura, raça, religião e, claro, por outra opinião. Mesmo compreendendo que para muitos é um princípio em desuso, até mesmo perverso para alguns, para mim, no entanto, continua a ser basilar. Guardo para sempre as palavras do Frei Joaquim com quem tive o prazer de conviver no Seminário do Amial: “A tolerância nasce da sabedoria, do amor e da busca da paz”.
Os temas abordados são tão díspares quanto imprevisíveis.... Da história e da ciência, do ambiente e das viagens, da saúde à sociologia, da religião aos princípios que norteiam as nossas vidas. Certamente uns marcaram-me mais que outros. “Não há um Planeta B” no qual instei a manter o bom senso sobre o ambiente. “Stephen Hawking” onde elogiei a vida daquele que, em tempos, pude assistir uma aula em Cambridge. O primado da tolerância e respeito pelos direitos humanos no artigo “A lição esquecida de Guernica”. Já em território profissional, “O dilema de Suzanne” em que partilho os dilemas humanos no exercício da Medicina, e noutro, “Como a Medicina convive com a Ciência” e ainda “O (novo) ajudante” onde ilustro a medicina robótica em Ortopedia. Recentemente, a escalada dos Himalaias permitiu-me vislumbrar outros atributos de um povo para além de imigração, no “Isto (não) é o Nepal”. Alguns artigos de rotura como o “E agora Madeira?” onde questionei a firmeza para manter na governação, as promessas feitas na oposição. Mérito, quando enalteci o trabalho de José Manuel Rodrigues na presidência do Parlamento pelo sentido de tolerância e luta pela dignificação da instituição.
Ao contrário do que se possa pensar, apesar da minha passagem pela política, a grande maioria deles não versam a luta político partidária, por muito que isso desagrade certas pessoas no partido... Simplesmente quero ter mais vida para além da política, e claro que sempre estive à vontade em criticar o que merecia ser criticado. Sempre entendi que a política deve ser bem distinta de uma afinidade clubística, de um contrato clausulado ou de um meio inapropriado para obter algo. Em Portugal a comunicação social deve ser imparcial pois esse é um pilar constitucional juntamente com o pluralismo e a separação entre notícias e opinião. Do Diário de Notícias da Madeira devo dizer que em circunstância alguma senti pressão, ou sugestão, para escolher algum tema ou abordá-lo de uma certa maneira, o que, nos dias que correm, é um bom sinal de maioridade para um órgão de comunicação social.
E o mais importante fica para o fim. Os leitores! Sim, aqueles que são o destino final da opinião, da partilha e da reflexão, mas são também os juízes últimos de todo o nosso trabalho. E que inúmeras vezes partilharam comigo o que pensam sobre o que escrevo e como o faço, e o que acham ser importante naquilo que abordo nos artigos. E as sugestões que apresentam. A eles um muito obrigado!