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Mais um Natal. Só que não

Mais uma vez, é Natal. Ou, pelo menos, assim o dizem a azáfama, as compras e o próprio calendário. As luzes acendem-se, as mesas preparam-se e as mensagens repetem-se com os votos de sempre. Para muitos, é novamente Natal, igual a tantos outros, previsível e quase automático. Mas para outros, este pode ser o último. E para alguns, já não o será. Vivemos tempos estranhos. Entre guerras que se prolongam, crises que se acumulam, perdas silenciosas e medos normalizados, habituámo-nos perigosamente a dar como garantido aquilo que nunca o foi: o amanhã, a presença, o tempo.

O Natal, enquanto símbolo, fala-nos de nascimento, de recomeço e de esperança. Mas talvez, hoje mais do que nunca, deva também falar-nos de algo finito. Não como algo obscuro, mas como algo que dá verdadeiro valor à vida. Porque só quando percebemos que tudo é passageiro é que aprendemos, verdadeiramente, a estar. A vida é efémera e é, paradoxalmente, nisso que reside a sua beleza. Não são os grandes acontecimentos que a definem, mas os pequenos momentos: uma conversa sem pressa, um abraço que chega a tempo, um silêncio partilhado, um pedido de perdão que já devia ter sido feito, uma aceitação que finalmente acontece. São nesses instantes, aparentemente banais, que no fim se perduram na nossa memória.

Talvez este Natal não precise de ser perfeito, nem igual aos outros. Talvez precise apenas de ser vivido. Vivido com mais presença e menos distração, com mais escuta e menos ruído, com mais verdade e menos expectativas. Num mundo que corre, que exige e que pressiona, o Natal pode e deve ser um momento de pausa um “lembrar” de que estar vivo não é apenas existir, mas sentir, cuidar, reconciliar, perdoar e, sobretudo, agradecer. Não pelo que temos, mas por ainda estarmos aqui.

Nada nos garante o próximo Natal, o próximo ano ou sequer o próximo dia. E é precisamente por isso que este momento importa. Que saibamos viver este Natal com intenção, com presença e com coragem. Coragem para parar, para dizer o que importa, para estar verdadeiramente com quem temos ao nosso lado, para não adiar afetos nem deixar para amanhã o que pode ser vivido hoje. Que este Natal não seja apenas mais um, mas um ato consciente de vida. Porque viver não é garantir o futuro, é honrar o presente. E enquanto aqui estamos, que saibamos estar bem, inteiros e em paz.

Feliz Natal!