O espelho da Madeira está na Assembleia
A Madeira assinalou o cinquentenário da conquista da sua Autonomia. Meio século volvido, torna-se inevitável refletir sobre o percurso político da Região e, em particular, sobre uma ausência notória: a falta de alternância democrática. Ao contrário do que sucede no restante território nacional, a Madeira permanece governada pela mesma força política desde as primeiras eleições legislativas regionais. Não é o partido hegemônico que deve ser responsabilizado por este cenário, mas antes a incapacidade das forças da oposição em se afirmarem como uma verdadeira alternativa de governação.
Mesmo em momentos de maior desgaste do atual executivo, eleição após eleição, a vitória repete-se quase por inércia. A oposição tem reagido em vez de propor, limitando-se muitas vezes a declarações e comunicados, sem mobilizar verdadeiramente a sociedade civil, sem apresentar um programa coerente de mudança nem uma equipa preparada para governar. Engane-se, porém, quem veja neste diagnóstico um elogio ao Governo Regional. Este não é extraordinário, longe disso, mas tem beneficiado de um sentimento generalizado de resignação, sendo percepcionado por muitos madeirenses como o “mais preparado face ao que existe”. O dever da oposição seria demonstrar precisamente o contrário. Demonstrar o que propõe, qual a visão de futuro que tem para a Região e de que forma pretende resolver os problemas estruturais que permanecem há anos por solucionar.
A limitação dos slots no Aeroporto Internacional da Madeira, a reestruturação da dívida pública de cinco mil milhões de euros, a dependência excessiva da nossa economia no setor do turismo e da construção, a fragilidade de escalabilidade do tecido empresarial, a falta de oportunidades de emprego qualificado, a reforma da administração pública regional que alberga cerca de 28 mil funcionários públicos ou o inevitável fim do Centro Internacional de Negócios dentro de anos, são apenas alguns exemplos de desafios que continuam sem resposta.
Empurra-se a realidade para a frente, adiando os problemas. O mais preocupante é o sentimento generalizado de conformismo, de falta de esperança e de ausência de estratégia que o Governo e a oposição não conseguem curar.
Qual é a visão comum entre os principais partidos sobre o futuro económico da Madeira? Onde estão os consensos sobre as prioridades regionais? Simplesmente, não existem. A política regional tornou-se refém de reações momentâneas, em vez de se mover por um projeto coletivo de desenvolvimento. A Madeira precisa urgentemente de uma nova geração de cidadãos ativos, independentes, preparados, capazes de gerar consensos e de mobilizar a sociedade civil para um objetivo comum. A Madeira não pode continuar a ter uma classe política hiper dependente das suas funções políticas. Gente que tem mais anos de vida política, do que de vida profissional. Que valor acrescentado poderão dar à Madeira?
É necessário uma refundação dos principais partidos da Região com equipas multidisciplinares que se apresentem aos madeirenses com competência técnica, experiência profissional e responsabilidade moral, demonstrando que é possível governar de forma diferente e melhor. Os melhores não podem ficar de fora do futuro da Madeira à mercê daqueles que veem as funções políticas como um crescimento na sua condição salarial. Compreendo que muitos, indo para essas funções, perdem rendimentos face aqueles auferidos nas suas carreiras profissionais, mas é precisamente por isso que os nossos representantes devem ser melhor remunerados, para que consequentemente os mais preparados, possam dar esse contributo.
Basta observar o debate em torno do Orçamento da Região para 2026: vazio de ideias, carente de visão, reduzido a uma única narrativa — o diferencial fiscal de 30% em sede de IRS. Este orçamento é o reflexo de uma classe política esgotada, sub qualificada e pouco ambiciosa, que já não inspira confiança nem esperança. É esta a Madeira que temos. Mas não é, necessariamente, a Madeira que devemos aceitar continuar a ter.