DNOTICIAS.PT
Crónicas

A opção estratégica do golfe

O investimento no golfe não retira qualquer euro à habitação, saúde ou outra carência social. Nem água

Em política temos de ser sérios. É assim mesmo. As pessoas esperam uma atitude honesta dos protagonistas políticos. Os assuntos importantes da estratégia de desenvolvimento regional devem ser abordados e discutidos sem demagogia e recusando a tentação de tirar proveito de conclusões erradas.

Vem isto a propósito da desfaçatez com que políticos, que deviam contribuir para a discussão e esclarecimento da opção estratégica do golfe, em vez disso espalham a mentira e confusão sobre a matéria.

O investimento no golfe não retira um único euro que seja à habitação, saúde, educação ou outro qualquer investimento social indispensável. Nem água!

O investimento público orçamental tem dois lados: o social e o económico. Os dois contribuem para a realização financeira de cada ano. É óbvio ser crucial o desenvolvimento económico da Madeira e Porto Santo. É a partir daí que cresce a prosperidade global e aumenta o rendimento das famílias. Sem mais empregos e mais elevados salários não haverá felicidade colectiva: a nossa maior ambição.

O certo do nosso desenvolvimento estratégico está bem evidente no continuado aumento do PIB regional, a chegar ao recorde dos oito mil milhões de euros.

Para isso contribuiu decisivamente a nossa opção no turismo, e nele o de qualidade.

Vêm hotéis actualmente a serem construídos na Madeira ou Porto Santo? Não! Não estão a ser feitos novos hotéis. Nem Pestana, Savoy, Porto Bay ou outro qualquer investidor prepara investimento hoteleiro. Há ausência total de estrangeiros em apostar no turismo da Madeira. Apenas nos Reis Magos discute-se e se mantém um impasse absurdo com muitas décadas. Uma caturrice que demonstra quanto imprecisos são os planos que ordenam o território.

O que se vê é uma obsessão pelo imobiliário, dirigido ao turismo de massas, que atrai pequenos aforradores madeirenses, muitos emigrantes e alguns estrangeiros que engordam os dinaussauros do imobiliário. Os quais farão hotéis se não puderem construir edifícios de apartamentos. Não param e, ainda bem.

A orla marítima da Madeira está saturada de construção. Caiu-lhe tudo em cima. Bom e mau. O norte da ilha não tem desenvolvimento e carece de alternativa à agricultura. É preciso encontrar saída estratégica para as zonas que ficaram para trás. Aquele “boom” milagroso do princípio do século não chegou a todos nem a todo o lado. Partes da Madeira precisam de investimento económico.

O que querem fazer na ribeira do Faial melhor que um campo de golfe com hotéis e turismo residencial conforme a opção e na medida dos donos dos terrenos?

O demagogo JPP tem melhor opção? Quer resolver o problema da habitação na Costa Sul investindo em Santana ou nada quer de progresso para o norte sempre desprezado?

A IL, tão ávida de iniciativa empresarial, que soluções tem para Santana? Quer gastar no social antes de investir e rentabilizar o económico e empresarial? Uma estratégia liberal patética e original na Madeira. Como outras curiosidades.

E, na Ponta do Pargo, porque não investiram ou inventaram qualquer coisa durante estes seis séculos de ocupação humana? Nada foi feito e, não fora o governo regional, nada teria sido feito. Um farol e um campo experimental agrícola, do governo e abandonado, foram as realizações de “sucesso” do promontório.

E porque não falam do golfe no Porto Santo? Aqui, pelos vistos, o JPP tem tantas propostas alternativas que nem concorre nas eleições autárquicas. E nas eleições para a Assembleia, o agora segundo maior partido regional, não incluiu qualquer portosantense na lista de candidatos eleitos ou não.

O golfe revela-se o milagre alternativo à praia em Porto Santo. Tenho honra em ter sido o seu dinamizador. Durante algum tempo sem qualquer companhia local. Nem os que hoje praticam a modalidade.

No inverno temos golfe ocupado por europeus do norte, no verão temos a praia para as famílias madeirenses e turistas nacionais.

São 40.000 (quarenta mil) jogos de golfe num ano, impensável mesmo nos melhores sonhos. Campo completamente cheio no inverno, paradisíaco para golfe.

Somente o negócio podia e devia ser maior e mais lucrativo. O preço médio cobrado, actualmente, por um jogo de golfe aos dinamarqueses é de 15 € (quinze euros). Substitui-los por britânicos elevaria o preço individual para 70 € (setenta euros), oferecendo um “novo” negócio ao campo. Com as mesmas receitas de carrinhos e outras despesas.

O desafio é que para trocar dinamarqueses por britânicos, e fazê-los alternar o Algarve com o Porto Santo, exige pelo menos quatro campos de golfe, mais três adicionais. O Porto Santo tem terreno, entre o actual campo e o aeroporto, mais que suficiente para a sua construção.

E a água, tão falada no caso do golfe, já não constitui uma dificuldade. No Algarve os campos já são obrigados a fabricar toda a água que precisam para o golfe. Em Canárias, sem água natural, já existem mais de vinte campos de golfe, estando em construção dez dessalinizadoras para a agricultura e golfe. E em Marrakesh, mesmo aqui ao lado no meio do deserto, também são mais de dez os campos. Sem esquecer as secas “arábias”.

Mas vamos ao principal.

O Santo da Serra sempre foi muito acarinhado pela sua quase centenária tradição no golfe. O Palheiro é privado e ninguém contesta a sua existência. O Porto Santo, depois de considerado investimento suspeito, agora tem aprovação geral. A Ponta do Pargo sempre teve apoio oficial e popular, sendo a esperança para uma subida do nível do turismo, com novos hotéis e turismo residencial planeado no extremo oeste da Ilha.

Se a Calheta abençoou o investimento porquê em Santana a discussão? Aqui maior deveria ser o regozijo. É sempre uma “força do mal” o obstáculo ao progresso. O que têm as ribeiras no Faial que não valha a pena suspender? Nada! As infinitas pedreiras, qual imagem da Idade Média ou antigo Egipto, que ano a ano ameaçam o leito das ribeiras e são causa de perturbação local, pressão sobre a população e ocasião para algumas compensações pela criação de um meio ambiente insustentável e inadmissível.

Quem lucra com tudo aquilo? Quem consente? Quem autoriza? São todos gente de bem? Há interesses misturados? Não preferem trocar um espaço, que nem na Idade da Pedra seria autorizado, pelo verde do progresso e da qualidade? A indesejável indústria extrativa dar lugar ao turismo? Criar um pequeno paraíso onde hoje perdura a pior imagem da nossa Ilha?

Os milhões das expropriações, o investimento público na canalização das ribeiras e na construção do campo, a valorização dos terrenos na orla e encosta da ribeira, na Freguesia e no Concelho, será como que um milagre imediato e inesperado. As novas gerações abençoarão a ideia.

Não mostrem o actual cartaz das ribeiras aos juízes dos sucessivos prémios ganhos pela Madeira. Tiram-nos as medalhas certamente.

Mas o que mais satisfez no caso do campo da Ponta do Pargo, foram os muitos milhões de euros pagos em expropriações aos diversos pequenos proprietários locais. Num ápice foram contemplados com indemnizações justas e antes inimagináveis como nunca sonhadas.

O presidente da câmara de Santana pode sossegar as pessoas porque os seus receios serão anulados. O governo regional de Miguel Albuquerque tem a estratégia correcta.

No Faial o procedimento será igual ao da Ponta do Pargo, vindo aí o retorno que nunca houve no norte da Ilha. É dinheiro nunca visto por ali, para além da oportunidade de dar sentido sustentável ao desenvolvimento de Santana e arredores.

Alguém mais quer justificar o quadro actual? Qualquer um, mesmo pouco perspicaz, fecha os olhos e vê todo o filme. Há situações abusivas que só alguém de fora é capaz de pôr fim. E mesmo assim … demorou.