Exigimos resultados, e os meios?
Ainda antes do voo, já se percebia que algo não estava bem.Viajava num voo que transportava duas equipas séniores de basquetebol, equipas que competem a nível nacional. Equipas que representam instituições, ilhas, a nossa região. Equipas que, no papel, deveriam ter as melhores condições para competir de igual para igual. Mas a realidade, infelizmente, continua muito distante disso.
O voo estava inicialmente previsto para as 6h. Alterou-se para as 14h. E o jogo, que devia acontecer às 16h, foi empurrado para as 18h para salvar o que restava de uma logística que nunca deveria ter falhado. A verdade crua é esta: continuamos a permitir que atletas de alta competição viajem no próprio dia de um jogo oficial, sujeitos a atrasos, remarcações, esperas e ainda a uma viagem de autocarro mal chegam ao destino. Não há rendimento possível quando o desgaste começa antes sequer do apito inicial.
Num país que discute, e bem, mais investimento no desporto no próprio Orçamento do Estado, estas situações são mais do que episódios isolados: são sintomas. Sintomas de um sistema que continua a tratar o desporto como um acessório quando é fundamental tratá-lo como uma prioridade.
Se queremos exigir mais e melhores resultados, maior impacto, mais talento formado, mais saúde pública, mais referência internacional, temos primeiro de garantir o mínimo: condições dignas de deslocação para quem representa as nossas regiões e compete ao mais alto nível. Só assim se pode pedir excelência.
E aqui não se trata apenas de justiça competitiva. Trata-se de visão. De perceber que o desporto não é só jogo: é futuro, é desenvolvimento, é saúde, é identidade e é coesão territorial. Um atleta que viaja descansado compete melhor. Uma equipa que chega no dia anterior prepara-se melhor.
Por isso, este episódio não deve ser apenas mais uma história contada num voo atrasado. Deve ser um ponto de reflexão e, espero, de viragem. Se realmente queremos um país mais desportivo, mais saudável e mais competitivo, então está na hora de alinhar as condições com as expectativas.
O desporto merece mais. E os nossos atletas também.