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Análise

Morremos cedo e ignorados

A quem serve a decisão sem critério, a omissão Deliberada e a contradição?

Há semanas em que os casos de falta de memória, descuido político e preconceito doentio, porventura decorrentes de maus hábitos instalados, práticas ancestrais e muito comodismo, parecem multiplicar-se à nossa frente. São sinais que não credibilizam protagonistas e instituições, evidenciam a incapacidade de aprender com os erros e, sobretudo, revelam pouca firmeza na hora de agir com responsabilidade. E em três momentos percebemos como são levianos os que deviam dar o exemplo.

1. Os números não enganam. Tal como o algodão. A Madeira é uma das regiões do país onde se morre mais cedo, realidade que não é súbita, mesmo não sendo inevitável. É o reflexo directo de teimosias políticas, de prioridades trocadas e de uma cultura de adiamento que se perpetua. É no que dá relativizar relatórios, artificializar indicadores e tratar a mortalidade como consequência natural do envelhecimento. O que está verdadeiramente em causa é a falta de estratégias claras de saúde pública, - capaz de prevenir, de vigiar, de tratar e de acompanhar - mas também de combate à pobreza e ao isolamento.

Enquanto não houver coragem para assumir o diagnóstico, dificilmente haverá tratamento. Isto porque a mortalidade elevada não é apenas um dado estatístico. É travão ao desenvolvimento, é perda de capital humano, é sofrimento familiar, é desigualdade territorial e é fragilidade económica. Uma região que morre mais cedo perde futuro. E se a Madeira quiser ter esperança deve enfrentar esta realidade sem desculpas, colocando a saúde pública no centro das prioridades.

A Madeira que se gaba de ser um exemplo em muitas áreas, não pode resignar-se e ser um mau exemplo naquilo que mais importa e que, por sinal, até dá votos, a vida humana. Morrer mais cedo não é destino. É falha. E as falhas corrigem-se. Basta que haja vontade.

2. Quem tem poder, mesmo que efémero, deveria ter a coragem de definir de uma vez por todas quais são os critérios que presidem à atribuição de votos de pesar. Se assim for, a vergonhosa desconsideração pública de quem ignora figuras, legados e a história de quem a Região se devia orgulhar não irá chegar ao patamar de manifesta insensatez.

Na morte de Adam Blandy o silêncio institucional foi ensurdecedor, mas também revelador. Quando os decisores públicos não conseguem reconhecer quem contribuiu para a afirmação da sua terra estão a mostrar o quão frágeis são os seus próprios critérios de reconhecimento.

3. A apropriação indevida do trabalho jornalístico em torno da Saúde é subtileza antiga, embora com oportunismo bem actual, dada a tentativa de certos responsáveis públicos em esvaziar incómodos antes destes serem publicados. Isto porque ou ignoram questões feitas ou respondem antecipadamente às mesmas noutros meios que não naquele que desencadeou o processo, de modo a moldar a narrativa a seu favor. Uma prática que não é apenas desleal. É acima de tudo reveladora de insegurança e de desrespeito profissional.