Cristiano Ronaldo foi o primeiro madeirense na Casa Branca?
A visita de Cristiano Ronaldo à Casa Branca desencadeou um frenesim mediático e uma onda de publicações que davam por certo um feito histórico: o de que o jogador português teria sido o primeiro madeirense a entrar no centro do poder político norte-americano. A ideia é apelativa, gerou impacto e ainda rende notícias. Mas corresponde à verdade?
Para encontrar a resposta é preciso recuar mais de meio século, abrir o álbum fotográfico da história luso-americana e recuperar, pelo menos um nome de um madeirense que, apesar de discreto, pisou e trabalhou nos corredores da Casa Branca muito antes de Ronaldo. De seu nome... José Fernandes, natural do Arco da Calheta, nascido em 1923.
O calhetense emigrou ainda bebé para os Estados Unidos e fez carreira no Massachusetts, onde viria a tornar-se uma das figuras mais proeminentes da comunidade portuguesa.
Empresário de enorme sucesso, liderou a cadeia Fernandes Supermarkets, que chegou a ter 37 lojas e mais de 2 700 trabalhadores. Mas a sua notoriedade não se ficou pelo mundo empresarial. Fernandes foi um dinamizador incansável das comunidades lusas, fundador de instituições, figura central da imprensa luso-americana e presença ativa nos maiores eventos da diáspora.
Foi também agraciado com várias distinções, entre elas o título de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, em 1970, a condecoração papal da Ordem de São Gregório Magno e o prestigiado Peter Francisco Award. O seu percurso completo encontra-se documentado na sua biografia.
Contudo, a faceta menos conhecida (e hoje decisiva para este fact check) é a sua proximidade política ao mais alto nível. José Fernandes privou com figuras centrais da política norte-americana e era próximo das famílias Rockefeller e Kennedy, algo que lhe abriu portas a círculos reservados no poder federal. Foi, de facto, um dos primeiros conselheiros luso-americanos a entrar na esfera presidencial.
A prova dessa ligação está nas fotografias históricas que permanecem hoje como testemunho da sua passagem pela Casa Branca. Uma delas mostra-o, no início dos anos 70, numa reunião de trabalho durante a presidência de Richard Nixon, sentado entre assessores e figuras do staff num contexto claramente oficial.
Noutra imagem, já no final da década de 70, Fernandes surge numa reunião no interior da Casa Branca durante o mandato de Gerald Ford, reforçando o seu estatuto de conselheiro respeitado no ambiente político de Washington. E, anos mais tarde, uma terceira fotografia regista um momento marcante. José Fernandes a cumprimentar o presidente Bill Clinton, numa recepção na Casa Branca nos anos 90, num ambiente descontraído mas claramente institucional.
Estas três presenças documentadas (Nixon, Ford e Clinton) cobrem um arco temporal de quase três décadas em que José Fernandes foi recebido, ouvido e respeitado ao mais alto nível, sempre como representante activo da comunidade madeirense nos Estados Unidos.
Se Ronaldo é hoje um símbolo global de Portugal, Fernandes foi, à sua escala e no seu tempo, um dos rostos mais influentes da diáspora madeirense na política e cultura americanas.
Posto isto, a afirmação que se multiplicou nas redes sociais carece de rigor histórico. Cristiano Ronaldo não foi o primeiro madeirense a estar na Casa Branca. Antes dele, e de forma reiterada, José Fernandes já tinha entrado, reunido e conversado com presidentes dos Estados Unidos, numa relação construída ao longo de décadas, com mérito próprio, impacto comunitário e reconhecimento institucional.
Cristiano Ronaldo não foi o primeiro madeirense na Casa Branca. O pioneiro, documentado e amplamente reconhecido, foi José Fernandes, do Arco da Calheta, que esteve na Casa Branca com pelo menos três presidentes norte-americanos (Richard Nixon, Gerald Ford e Bill Clinton), desempenhando funções de conselheiro e mantendo relações políticas próximas ao mais alto nível.